As queimadas e os incêndios são ameaças que cada vez mais pairam sobre as Unidades de Conservação (UC) do Cerrado. Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), este número cresceu 57,63% no primeiro semestre de 2015 comparado ao mesmo período do ano anterior, o que representa o total de 4.423 focos de incêndios em UCs federais e estaduais da região.
Historicamente, a pecuária e a agricultura mecanizada mostram-se como as atividades responsáveis por esse processo de descaracterização ambiental. Kolbe Soares, analista de conservação do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, explica que para a prática da atividade agropecuária ocorrem, frequentemente, as queimadas, pois é um ato que gera poucos custos para o preparo inicial do solo.
Entretanto, nesta última pesquisa o clima foi considerado a principal razão para este aumento, uma vez que o fenômeno El Niño tem mantido a temperatura das águas do Pacífico Equatorial mais elevadas, causando uma temporada de seca mais quente do que o normal.
De acordo com André Nahur, coordenador do programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, “outra questão bastante relevante associada às mudanças climáticas é o aumento da incidência de eventos extremos, como secas ou inundações. No Cerrado, em especial, a previsão é que haja uma redução de 45% no nível de chuvas até 2100. O aumento da seca contribui para que as queimadas - que muitas vezes são intencionais - se alastrem com mais rapidez, provocando grandes desastres”.
Florestas em risco
As UCs ajudam na proteção de nascentes de água, na regulamentação do clima, na geração de renda para povos e comunidades tradicionais e na garantia das riquezas socioculturais. Mas Kolbe alerta que o fato do fogo invadir áreas protegidas coloca em risco os remanescentes florestais do Cerrado.
Na sua avaliação este cenário é preocupante por que o Cerrado já havia perdido até 2010 quase metade (48,5%) de sua vegetação nativa. E a criação de Unidades de Conservação faz parte do rol de estratégias para proteção da natureza. De toda extensão do Cerrado, apenas 8% está protegida por UCs e deste percentual somente 3% estão reconhecidas na categoria de proteção integral pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
“A intensificação das queimadas sem o manejo adequado e de incêndios em áreas protegidas pode ocasionar a degradação do ambiente, erosão, perda da biodiversidade e ameaçar espécies da fauna, comprometendo a efetividade das UCs”, afirmou Kolbe.
Queimadas nos outros biomas
Para entender como a situação é preocupante, nos meses analisados, os incêndios e as queimadas nos demais biomas mais que dobraram de 2014 para 2015, como é possível observar na tabela a seguir:
BIOMA | 2014 | 2015 | VARIAÇÃO |
Cerrado | 2806 | 4423 | 57,63% |
Amazônia | 946 | 2365 | 150,00% |
Mata Atlântica | 873 | 2569 | 194,27% |
Caatinga | 160 | 582 | 263,75% |
Pantanal | 12 | 39 | 225,00% |
Pampa | 1 | 16 | 1500,00% |
* Com informações do Observatório de UCs