Pesquisadores do Instituto Mamirauá testaram e adaptaram uma tecnologia de tratamento de esgoto adequada e viável financeiramente para residências flutuantes na Amazônia. Os resultados dessa pesquisa, realizada por quatro anos pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, foram apresentados no 12º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon). O evento acontece até amanhã, dia 3 de julho, e está sendo transmitido ao vivo pela internet no endereço www.mamiraua.org.br/web
No ambiente de várzea, as famílias das comunidades ribeirinhas da Amazônia precisam adaptar suas moradias para viverem em conformidade com a sazonalidade dos rios. As residências flutuantes, que nada mais são que casas sobre os rios, muito comuns na região, acompanham a dinâmica fluvial de enchente, cheia, vazante e seca. No entanto, a falta de tecnologias adequadas de saneamento expõe essa população a uma série de riscos, tendo em vista a saúde e qualidade de vida das famílias, além de impactar diretamente na qualidade ambiental da região.
“A ideia dessa pesquisa é apresentar um dispositivo para que os impactos no ambiente pelo esgoto sejam minimizados, principalmente pela questão da saúde. O objetivo é tentar eliminar esses ciclos de doenças de veiculação hídrica, ou seja, reduzir a contaminação de patógenos na água, melhorando a qualidade de vida das famílias”, afirma João Paulo Borges Pedro, pesquisador do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Para chegar a um modelo adequado de tecnologia, a equipe trabalhou com o sistema de tratamento de esgoto da Pousada Flutuante Uacari, empreendimento de turismo de base comunitária localizado na Reserva Mamirauá. O sistema, que já existia na pousada e adaptado durante a pesquisa, foi avaliado e monitorado pela equipe durante três anos.
O objetivo do projeto era avaliar a viabilidade técnica e econômica dessa tecnologia social. “Fizemos uma análise geral, detectamos os problemas, fizemos as adaptações tecnológicas necessárias e, a partir daí, começamos a monitorar”, assegura o pesquisador. O sistema é composto por um tanque séptico e filtro anaeróbio, formado por anéis de bambu, pedra britada e cacos de tijolo.
Durante o período de realização da pesquisa, foram feitas análises mensais físico-químicas e biológicas em laboratório. As coletas de amostras eram feitas na entrada e saída do sistema. A eficiência de remoção de poluentes foi analisada através da comparação de diferentes parâmetros como pH, temperatura, concentração de matéria orgânica, nitrogênio, amônia e fósforo.
“Outro foco importante do projeto era desenvolver um sistema de tratamento específico para flutuantes, que pudesse servir de modelo para outras regiões. Ou seja, estabelecer um modelo que fosse ideal, replicável a qualquer realidade de flutuante, seja na várzea ou outros ambientes alagáveis”, ressaltou o pesquisador. De acordo com João Paulo, o sistema desenvolvido se mostrou eficaz e viável técnica e economicamente, e representa um avanço para tecnologias de saneamento específicas para residências flutuantes.
De acordo com o estudo, para a pesquisa de viabilidade econômica, foram considerados os custos para instalação e manutenção do sistema e comparados com o valor de uma residência padrão e renda familiar dos moradores das Reservas Mamirauá e Amanã. O custo total do sistema representa 5% de aumento no custo de construção de um flutuante para seis pessoas, média de moradores por domicílio nas duas Reservas, o que demonstra que a tecnologia pode ser acessível para essas populações. A proposta é que o modelo possa ser transformado e aplicado como política pública para o saneamento adequado para esse público.