Sexta, 22 Novembro 2024
O cenário vivenciado principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde os períodos de estiagem e as altas temperaturas estão mais frequentes, tem provocado severos impactos no meio urbano. O aumento das tarifas de energia elétrica, por exemplo, é um dos reflexos da falta de chuva dos últimos anos. No agronegócio, o desafio de conviver e produzir com as mudanças climáticas é ainda maior. "Temos estações pouco definidas, a falta de água é uma constante e os custos de produção aumentam a cada dia", resume o presidente da Coopersete (Cooperativa Regional dos Produtores Rurais de Sete Lagoas) Marcelo Candiotto, ao descrever a situação vivida pelos agricultores desde 2010 na região Central de Minas Gerais.
 
Segundo ele, as alternativas para os agricultores é estabelecer um planejamento bem feito, focado em três pilares: assistência técnica, recuperação de áreas degradadas e produção eficiente de volumosos, como a cana-de-açúcar, o sorgo e a capineira, para abastecerem o gado no período de seca. No caso da cultura do sorgo, Candiotto afirma que o cereal é uma grande alternativa para enfrentar as situações de estresse hídrico. "Parou de chover, ele (o sorgo) também para seu crescimento. Voltou a chover, consegui colher após 130 dias com um rendimento de 40 toneladas por hectare", diz, se referindo à safra 2013/2014.
 
O presidente da cooperativa é um dos entusiastas da cultura. "É um produto rústico, possui boa amplitude de plantio, apresenta alta capacidade produtiva e baixo custo de produção. Não precisa exagerar na adubação", resume. "A estratégia de optar por culturas alternativas e com maior resistência à seca – como o sorgo e o milheto – associada à adoção de técnicas de conservação de água, como o plantio direto, a construção de barraginhas e a proteção de nascentes e matas ciliares, deve ser prática comum em toda propriedade", defende.
 
As barraginhas e os lagos de múltiplo uso, técnicas coordenadas pelo engenheiro agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Luciano Cordoval de Barros, têm possibilitado a revitalização de nascentes e que agricultores de regiões áridas de Minas consigam produzir. É o caso do produtor de leite e queijo artesanal Warley Braga Souza, dono de uma propriedade de pouco mais de cinco hectares em Janaúba. "Há quatro anos sofremos com a falta de chuva. Pretendo construir mais barraginhas na minha propriedade e tentar aumentar a produção de leite", diz. Osmar Antunes Neto, coordenador regional da Emater-MG em Janaúba, afirma que 1.400 barraginhas vêm sendo construídas em quatro municípios do Norte de Minas em parceria com a Embrapa. "São tecnologias importantes que têm que ser difundidas para que consigamos sobreviver à seca", diz o técnico.
 
Ilhas de calor
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Daniel Guimarães reforça também que o uso de cultivares de milho com maior tolerância ao estresse hídrico deve ser uma tecnologia acessível a agricultores de baixa renda. Além dessas técnicas para tentar vencer os efeitos das mudanças climáticas e produzir com eficiência nesse ambiente, o pesquisador explica que as queimadas devem ser evitadas ao máximo. "As ilhas de calor provocam alterações de temperatura que chegam até às áreas urbanas, provocando tempestades, alagamentos e outras catástrofes", explica.
 
A adoção de tecnologias como a integração lavoura-pecuária, a integração lavoura-pecuária-floresta e o plantio direto também deve ser estimulada, na visão do pesquisador. "A instabilidade causada pelas mudanças climáticas é o maior problema que o produtor enfrenta nos dias de hoje e os impactos são sentidos diariamente pela sociedade. O que recomendamos é que o agricultor seja também um produtor de água. O solo deve ter uma reserva hídrica", recomenda.
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