Após três meses presa na Rússia por conta de um protesto pacífico, a ativista Ana Paula Maciel foi recebida por sua família, em dezembro, com um churrasco. Essa notícia resultou em críticas ao Greenpeace, expondo uma suposta contradição entre comer carne e, ao mesmo tempo, defender o desmatamento zero.
O Greenpeace defende uma redução drástica do consumo de proteína animal, não apenas para poupar a floresta e reduzir as emissões, mas também para a saúde humana. Por outro lado, para cumprir nossa missão de promover padrões de produção e consumo sustentáveis, não podemos desconsiderar o impacto que a produção atual de carne representa para o meio ambiente.
Desde 2009, temos uma frente de campanha voltada à pecuária. Buscamos mostrar diversas vezes como o avanço da produção de carne resultou em invasão de terras indígenas, destruição de áreas de floresta preservadas ou mesmo violência no campo. Como resultado, os três maiores frigoríficos do país assumiram o compromisso de só comprar carne de fazendas que comprovadamente adotam o desmatamento zero como prática, além de rejeitar trabalho escravo e ameaça às terras indígenas.
Esse é um passo importante, mas sabemos que não é o suficiente. Atualmente, a média de consumo diário de carne no mundo é de cem gramas por pessoa e a tendência é que esse consumo aumente vertiginosamente nos próximos 40 anos. É por isso que aplaudimos iniciativas como a “Segunda sem Carne” ao promover a redução do consumo e uma dieta mais balanceada.
Acreditamos que a decisão de se tornar vegetariano contribui para reduzir a pressão sobre a floresta e o clima. Mas achamos também que essa escolha é de âmbito pessoal. Muitos de nós, do Greenpeace, realmente somos vegetarianos ou veganos. Outros comemos carne. Não estabelecemos julgamento moral sobre indivíduos em particular.
Não enxergamos contradição entre esse posicionamento e nossa defesa pela Amazônia. Nossas lutas têm frentes distintas a das entidades que defendem o vegetarianismo, mas são convergentes.