A desarticulação entre as entidades envolvidas e a falta de devida atenção aos impactos ambientais e paisagísticos tornaram a construção do píer em Y na Zona Portuária do Rio de Janeiro uma grande e tensa novela, com prejuízos para a economia da Cidade. A Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) modificou o local do píer, que seria originalmente instalado entre os armazéns 5 e 6, para as proximidades do armazém 2 e do Píer Mauá, criando uma grande chiadeira na Cidade.
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Diante de tantas manifestações, as licenças concedidas para a construção do píer em Y foram suspensas por liminar da 15ª Vara de Fazenda Pública do Rio no início desta semana. A liminar teve como base uma ação popular da deputada estadual Aspásia Camargo (PV), que considera o píer uma "agressão ao Rio de Janeiro". Segundo ela, o Plano Diretor do Rio especifica que a "paisagem é o maior bem da Cidade" e que o absurdo da modificação de local é "apenas para atender aos interesses da Companhia Docas do Rio de Janeiro".
Imagem do projeto de adequação do Terminal Marítimo do Rio
O colunista do Portogente, Frederico Bussinger, aborda o tema de forma mais abrangente, lembrando que a "obsolescência do Porto do Rio avança, podendo vir a comprometer tanto suas condições operacionais como sua competitividade no futuro próximo". Em artigo publicado neste portal, ele lista uma série de projetos de revitalização portuária que são referências internacionais e sugere a análise destes para conceber um "projeto portuário e urbano de forma articulada, com melhores resultados globais".
A desarticulação fica clara no despacho que suspendeu as licenças para o projeto e determina a suspensão da assinatura do contrato para execução das obras. Isto porque o local escolhido pela CDRJ para a implantação do projeto faria com que os navios de cruzeiros encobrissem a vista do Mosteiro de São Bento e do futuro Museu do Amanhã, projeto do renomado arquiteto e engenheiro espanhol Santiago Calatrava.
Imagem divulgada por opositores à construção mostra navios
de cruzeiros prejudicando a paisagem de parte do Centro do Rio
Também filiado ao PV, o deputado federal Alfredo Sirkis reclama não ser válido o argumento da CDRJ para a escolha do local de instalação do píer em Y, que é o de realizar uma dragagem menor e menos complicada em relação ao que os armazéns 5 e 6 exigem: "Se é preciso fazer uma dragagem maior, tudo bem, que se faça. Essa não é uma razão para modificar o projeto. Na verdade, a Docas resiste muito à revitalização da Zona Portuária do Rio, querendo manter atividades deles em toda a área entre o Píer Mauá e o Armazém 6, apesar de ela já ter sido destinada ao Porto Maravilha. Há historicamente uma queda de braço entre Docas e a prefeitura".