É fato que o Brasil carece de mão de obra qualificada em vários setores produtivos e de prestação de serviços. No entanto, isso tem sido explorado de forma oportunista para algumas associações de classe. Representantes de grandes empresas reclamam que faltam jovens disponíveis no mercado, mas a razão pode não estar na falta de profissionais treinados e interessados. A maior parte das vagas não ocupadas oferecem salários irrisórios e privam os contratados dos direitos básicos.
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Pode não ser essa a situação dos segmentos de hotelaria e gastronomia de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, mas matéria publicada pelo Jornal do Comércio exibe alguns desses sintomas. Os sindicatos que representam os hotéis e os restaurantes da capital gaúcha listam problemas como grande rotatividade de funcionários, despreparo dos contratados e até seguro desemprego e Bolsa Família como vilões do setor. “Antigamente, se colocava uma plaquinha anunciando vaga para garçom na porta do restaurante, logo aparecia alguém interessado. Hoje em dia, a plaquinha fica lá por meses. Onde andam estes jovens?”, questionou o presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (Sindpoa), José de Jesus Santos.
A resposta do coordenador do curso superior de Tecnologia em Hotelaria da Faculdade Senac Porto Alegre, Luiz Alonso Blanco, foi precisa: a carência de profissionais tem ligação com os baixos salários iniciais, concorrência de segmentos que remuneram melhor e a opção por não repassar taxas de serviços aos funcionários.
Sem dúvida, é preciso melhorar o sistema de ensino e de formação de profissionais especializados no Brasil. Entretanto, valorizá-los por meio de bons salários e também com incentivos que os façam se sentir parte de uma equipe é fundamental para obter êxito no mercado nacional e internacional. O Poder Público também não pode se ausentar e deve proporcionar condições para exigir o cumprimento de leis trabalhistas e o pagamento de remunerações justas.