O Brasil encontrará grandes desafios no transporte aquaviário de cargas em 2010. Os estaleiros nacionais estão abarrotados de encomendas para construção de plataformas e grandes embarcações, prometendo gerar divisas e muito desenvolvimento. Empresas como a Vale procuram até estaleiros na Ásia para dar conta de sua demanda. No entanto, o País não pode errar em termos de infraestrutura. Caso contrário pagará muito caro ao não conseguir dividir mais adequadamente sua matriz de transporte, hoje excessivamente concentrada no modal rodoviário.
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Nas últimas décadas, as autoridades brasileiras não vêm fazendo jus ao potencial marítimo e hidroviário do País. Em 1583, o jesuíta Fernão Cardim já escrevia no “Tratados da Terra e Gente do Brasil” sobre a pujança do transporte de cargas em grandes canoas desde o oceano Atlântico até o interior. “São todas estas serras cheias de muitas e grandes madeiras de cedro, que fazem canoas tão largas de um só pau que cabe uma pipa atravessada”.
História da construção naval no País envolveu trabalhadores
que precisavam se deslocar por longas distâncias
Desde então, o Brasil usufruiu de todo o tipo de embarcação para desenvolver as suas cinco regiões. As precárias canoas a remo se tornaram barcos – a vela e, posteriormente, com propulsão a motor -, que originaram os grandes navios, cada vez maiores e que hoje carregam até 11 mil TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés).
Entretanto, essa evolução mundial só resultará em redução de custos para os brasileiros caso os portos sejam efetivamente dragados conforme o Programa Nacional de Dragagem (PND) da Secretaria Especial de Portos (SEP) e que as profundidades alcançadas sejam mantidas com êxito. A navegação nos rios também se constitui em grande desafio, diante da necessidade de eliminar obstáculos e garantir eficácia e agilidade no transporte de cargas em grande escala.
Será necessária muita habilidade para conduzir todo esse processo em um ano eleitoral. A bacia hidroviária brasileira não pode deixar de ter condições de navegação ou ficar restrita a receber apenas barcos a remo com capacidade limitada de transporte, conforme acontecia no século XVI.