Quinta, 30 Outubro 2025

Editorial | Coluna Dia a Dia

Portogente

Já notaram como os produtos transportados por nossa marinha mercante - que antes chegavam aos portos e seguiam para portos europeus ou da América do Norte - agora estão cada vez mais se afastando do nosso litoral, viajando em sentido leste-oeste? Pior: junto com suas próprias fábricas?

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De um lado, de olho em seus legítimos interesses comerciais e estratégicos, integrados no conceito de Nova Rota da Seda, começam a ser direcionados não para os portos nacionais, na costa atlântica... mas aos portos do Pacífico, viajando sobre rodas (de borracha ou de metal).

De outro, a interiorização da indústria brasileira, junto com a agricultura de exportação, de olho no próprio mercado chinês. E também, tangidas pelos custos tributários (e por questões legais/burocráticas), as indústrias, fugindo da excessiva carga de impostos, indo se alojar no Paraguai.

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Talvez precisemos começar a levar essa movimentação em conta, considerando aspectos estragégicos e geopolíticos. Periga termos por aqui um repeteco da desnacionalização de um parque industrial, como aconteceu nos EUA, onde as grandes indústrias dormiram em território nacional (deles) e acordaram no estrangeiro (em solo chinês).

O fato é que muitas indústrias estão se estabelecendo no Paraguai, numa tendência que já deveria preocupar o governo brasileiro. Mais de 180 empresas de nomes bem conhecidos, só em meses recentes.

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Não se pode a cada instante pegar uma fábrica, colocá-la nas costas e sair buscando lugares melhores. Então, uma decisão de fincar pé em outro país dificilmente será revertida (como Trump está descobrindo a duras penas).

Custa muito formar cadeias produtivas, com trabalhadores capacitados, fornecedores qualificados, logística de armazenagem e transportes, tudo funcionando “just in time”. Custa mais ainda desmontar toda essa estrutura, desmobilizar a força laboral, transportar tudo para novo local e recompor a planta fabril em condições de produção competitiva.

Sem falar que nesse período a empresa fica fragilizada economicamente (ela voltará a operar em condições pelo menos iguais às anteriores? Terá fôlego para aguentar a transição?), sujeita a instabilidades e imprevisível para efeitos de bolsa de valores, justamente quando mais precisará de capitais para bancar essa mudança.

Veja mais: Rumo ao Paraguai: País atrai grandes empresas do Brasil

É por isso que os bonés MAGA são "Made in China"... e continuarão sendo por muito tempo, pois não se reverte em poucos meses efeitos acumulados em muitos anos. Consegue lembrar quando surgiram as empresas “maquiladoras” mexicanas? E a transferência da produção ianque para Coréia do Sul, Vietnã, China... também já faz bom tempo...

Recordemos que abrir uma filial estrangeira para dinamizar a distribuição dos produtos é bem diferente de transplantar toda a planta industrial para outro país e fazer desse destino o espaço principal de negócios com os clientes... Isso implica ainda em efeitos econômicos e trabalhistas negativos no Brasil, como estão acontecendo já nos EUA, Detroit que o diga.

Acende-se o alerta, num mercado internacional que ameaça se fechar, apesar do interesse brasileiro pelo multilateralismo. Considerando o clima cada vez mais conturbando entre os "hermanos" sulamericanos, seria bom que o Brasil pensasse desde já em estancar esse êxodo industrial, antes que fique refém de alguma liderança hostil emerja, apadrinhada ou não pelo Grande Irmão do Norte... ou o do Oriente.

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Há décadas o setor industrial brasileiro reclama proteção estatal contra produtos importados. Agora mesmo, teme nova invasão chinesa na área têxtil. Há um fundo de verdade nas reclamações, 50 anos atrás já se notava que o aço resultante do desmanche dum conteiner novo fabricado num país oriental valeria mais que a própria unidade entregue em porto brasileiro.

O “dumping” explica um pouco isso. Baixos salários no exterior são alegados como forma de reduzir preços. Fato também que produção em alta escala reduz custos.

Mas... experimente pegar uma nota fiscal qualquer e verificar o montante dos impostos embutidos no valor. Compare com os tributos aplicados na origem aos produtos que importamos. Imagine se eles fossem aplicados à indústria nacional. Feito isso, “dê nome aos bois”...

Saliente-se também o conhecido – mas nunca resolvido – conjunto de problemas apelidado de “Custo Brasil”. Como a água que falta nas casas mas jorra no meio das ruas, ou a perda de 30% da produção entre porteira da fazenda e porto em estradas, digamos, impróprias. Corrupção, insegurança, erros gritantes, há muito mais envolvido.

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Há mais fatores envolvidos. No finzinho do século XX, desnacionalizamos nossa marinha mercante, que transportava quase metade dos bens comercializados com o exterior. Daí, foi um passo para acabarmos com a indústria naval e o setor de navipeças.

Agora, as indústrias estão se mudando, mas ainda voltadas para os portos atlânticos. Com as novas estruturas terrestres interoceânicas, talvez o novo “made in Brazil” paraguaio se torne uma sucursal do “made in China”, dando a volta ao mundo para ainda assim chegar mais barato aos nossos portos atlânticos... Pense nisso!

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Especial 63 Portogente

Governo paraguaio divulgou o Plano Nacional de Desenvolvimento PND-2050
Foto: IP - Agencia de Información Paraguaya - 29/10/2025

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