Editorial | Coluna Dia a Dia
Portogente
Quebrando recordes históricos em julho, o porto santista está entrando em uma nova fase em que, sem mais dúvidas, ficará sob todos os holofotes do mundo, para o bem (e, claro, também para o mal). Não é figura de linguagem: está em estágio avançado de desenvolvimento uma nova rota do comércio marítimo internacional, conhecida como “Nova Rota da Seda”. E Santos ocupa posição central nessa rota, como referência no Atlântico, enquanto Chankay, no Peru, tem magnitude semelhante como referência na costa do Pacífico.
Vejamos: um dos portos mais movimentados do mundo e hoje o principal em contêineres é o de Xangai, na China. Coordenadas geográficas: 31° 13′ 43″ Norte, 121° 28′ 29″ Leste (sim, a China está situada totalmente no Hemisfério Norte).
Em contraposição, o porto de Chancay, construído pelos chineses no Peru, para assumir posição estratégica no mundo, está situado em 11° 35′ 25″ Sul, 77° 16′ 34″ Oeste, distante de Xangai por mar algo como 21.113 km.
O círculo imaginário que liga estes dois pontos do planeta passa pelo Brasil, país de grandes proporções territoriais, com um pezinho no Hemisfério Norte, ali no Amapá, onde estão a capital Macapá e o porto de Santana, criado em 1982 (em 03' 21" S 51° 10' 51" O) e repassado vinte anos depois para a autoridade portuária Cia. Docas de Santana (CDSA).
Descendo um tanto, há uma ferrovia projetada para atravessar o Brasil, ligando Chancay a Ilhéus/BA (coordenadas: 14° 47′ 20″ Sul, 39° 02′ 56″ Oeste), quase em linha paralela com o Equador, ligando-se indiretamente com Santana ao Norte e Santos ao Sul. Na China, outros portos também estão ligados a essa rota marítima, como o de Gaolan, em Zhuhai,
E Santos/SP, considerado pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) como o principal porto de carga geral/contêineres desta região, está nas coordenadas 23° 56′ 13″ Sul, 46° 19′ 30″ Oeste, distante de Xangai aproximadamente 33.706 km por mar.
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Em termos planetários, as diferenças de quilometragem estimada se tornam menos importantes (para comparação, uma linha reta Chancay/Santos mediria uns 4.300 km).
Então, não erramos significativamente quando colocamos Santos no centro de um novo alvo do comércio internacional, agora liderado pela China e praticamente deslocando as rotas marítimas ocidentais para o Hemisfério Sul.
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A situação de hoje seria impensável quatro décadas atrás, quando o porto de Roterdam reinava como o mais importante do mundo, New York/New Jersey, Virgínia e Houston se destacavam na costa atlântica dos EUA e Los Angeles na área do Pacífico, Singapura e Hong-Kong lideravam na Ásia. Os líderes atuais mal estavam sendo projetados então. Os maiores navios de carga do mundo transportavam uns 1.500 TEU cada um e uma linha voltaao-mundo, prevista para operar 12 supernavios de 4.458 TEUs) acabava de falir (a United States Lines).
Em 1990, o Brasil movimentou um total de 1 milhão de TEU, número que coincide com os planos iniciais da China apenas para o primeiro ano do porto peruano de Chancay. Em 2024, Xangai sozinho atingiu a marca de 50 milhões de TEU movimentados, enquanto Santos comemorou a marca de 5,4 milhões de TEU.
Para comparação em termos de produtividade: a área estimada para uso na movimentação de contêineres em Santos é de 7,8 km² (antes do STS-10); em Xangai, uns 7,6 km²; em Chancay é de 2,8 km² a área total, ainda não especificado quanto será destinado à conteinerização.
Frente a esse crescimento superlativo, Santos tem que pensar bem grande e imediatamente dobrar a aposta. Como instalações portuárias não estão disponíveis nas prateleiras, temos de pensar hoje no porto de 2040, pelo menos... E, claro, como isso afeta as cidades vizinhas e será afetado por elas. Se Santos será o novo alvo do mundo, prepare-se para receber as flechas... e devolvê-las ao mar muito rapidamente...
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Santos é o alvo, entre os grandes pontos da Nova Rota da Seda
Imagem: IA Copilot/Microsoft.com