Sexta, 30 Mai 2025

Fiquem tranquilos os que devem muitas explicações e viram no título outro sentido que não o literal: a intenção – hoje – não é cobrar suas desculpas pífias. O objetivo aqui é lembrar que existe um problema em busca de uma solução, relacionando literalmente porto, mar de lama e buraco. É a profundidade do canal de navegação, assunto que parece esquecido há pelo menos dez anos. Tipo aquela dorzinha que incomoda mas a pessoa vai se acostumando e empurrando para “depois”.

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No século XIX, o governo – imperial – teve o gesto visionário de buscar apoio na iniciativa privada para a construção de um porto moderno em lugar dos antigos trapiches – rústicas pontes de madeira, sobre a margem lodosa, para alcançar o convés dos barcos e assim movimentar as mercadorias. Vieram os Gaffrèe e Guinle e fizeram nesse lamaçal o principal porto latino-americano de carga geral. Para garantir os acessos, Mauá fez uma prodigiosa ferrovia.

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Mas os barcos cresceram muito e o comércio exterior também. Os navios maiores tinham que entrar e sair do porto com carregamento parcial, fazendo mágicas para driblar a pouca profundidade com ajuda das marés altas. Alguém encontrou como solução o navio “fazer a cama”, abrindo passagens no leito lodoso do canal de navegação.

Explicando: nem tudo é água ou rocha pura, entre as duas camadas existe uma de lama mais ou menos densa e, com perícia, é possível movê-la para os lados, aumentando a profundidade em preciosos centímetros para abrir uma passagem ao navio. Não custa pouco, mas em alguns casos até o risco pode compensar. Ainda mais quando querem criar superterminais no porto, mas sem a estrutura de acessos correspondente, não é?

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O porto santista recebe águas da Serra do Mar, que transportam consigo terra das encostas e, na planície, depositam-na no canal de navegação e acesso ao porto. Assim, é necessária dragagem básica e constante, ‘de manutenção’, para retirar o excesso de lama e depositá-la no mar, onde não atrapalhe. Com o agigantamento dos navios, é preciso também fazer a ‘dragagem de aprofundamento’, com cuidados maiores para não desbarrancar as margens/destruir os píeres. Isso custa mais.

Todos sabem que algo precisa ser feito. Navegar é preciso. Mas a “casa” paulista dos navios, ao contrário daquela de Punta Ballena, tem chão cada vez mais alto... embora as paredes sejam feitas com muito esmero, na rua dos.... número...

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Então, ficamos assim: o governo diz ter dinheiro, cria Planos de Aceleração do Crescimento (PACs) para recepcionar projetos. O empresariado diz ter planos, tem dinheiro (ou sabe onde encontrá-lo). A população não tem planos nem dinheiro, mas sabe o que quer: um porto seguro (ou viver não é preciso...?), que tudo não exploda/expluda (faça “bum!”, se os linguistas preferirem a onomatopeia à palavra...), que deixe a cidade respirar e não polua nada.

O que falta? Coordenar os três entes, regulamentar para que não tenhamos monopólios ou oligopólios, garantir que haja segurança ambiental, social e para futuras expansões e que o dinheiro público não seja dado a particulares... em todos os sentidos. Então, sobram coordenadores... mas falta coordenação!

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O ruído vem crescendo: é preciso garantir atracação em águas profundas. Dois caminhos: fazer um novo porto no mar, fora da área de proteção tradicional das baías – e isso implica também em criar acessos para ele –, e/ou fazer dragagem de aprofundamento e melhorar os já congestionados acessos terrestres.

Congresso aqui, seminário acolá, consultoria milionária além, patati, patacolá, passaram-se pelo menos dez anos sem que fosse pelo menos fixado em consenso um norte pelo qual lutar. E o porto sofre e geme, cada vez com mais lama dentro do buraco, que também precisa ser ampliado...

dadcasapg01Aquela casa “muito engraçada”... diferente do buraco sem graça do porto, entupido de lama
Foto: divulgação/CasaPueblo

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*O Dia a Dia é a opinião do Portogente

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