As tragédias de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, envolvem a mesma Vale, que confinou em uma cava de 25 metros de profundidade e 400 metros de diâmetro, submersa no fundo do canal do Porto de Santos (SP), resíduos contaminados do Polo Industrial de Cubatão e Piaçaguera. Trata-se de material decantado e retirado pela dragagem de aprofundamento para atracar navios no Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (Tiplam) da VLI, braço da Vale Logística Integrada. Esse material deveria ter sido tratado, em vez de enterrado como está.
A alegação da Vale de que essa cava submersa é utilizada em países do Hemisfério Norte, seria insuficiente para descartar uma solução adequada, de boas técnicas e que preserve o Planeta para as futuras gerações. Como infelizmente se verificou, na trágica experiência de Mariana, a tragédia se repetiu aumentada em Brumadinho. Com a cava, há risco de contaminação por metais pesados e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são cancerígenos. Tudo indica, neste caso, que “o destino de toda a verdade é ser ridicularizada antes de ser reconhecida” como disse certa vez Albert Schaweitzer. O que se observa é a Vale desafiando o estado. É preciso reverter essa tendência.
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Os licenciamentos e autorizações para a solução da cava foram concedidos em clima de muita polêmica e por diretores da Codesp, a Autoridade Portuária de Santos, que foram retirados recentemente da empresa pela Polícia Federal por conta de corrupção. A solução recomendada pela comunidade científica especializada é a adotada em portos referenciais ante esse tipo de problema: disposição confinada e tratamento dos resíduos contaminados, realizada mais de 25 anos atrás no Porto de Antuérpia, na Bélgica.
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Diferente das trágicas e assassinas barragens, a cava, tão ou mais perigosa, é invisível e silenciosa. Suas consequências são: câncer, disfunções neurológicas e anomalias fetais. No entanto, foi adotada como a solução mais barata e que favorecesse o valor das ações da Vale na Bolsa, em detrimento do valor da vida humana. E o gerenciamento da execução dessa obra demonstra com clareza o perigo que ronda o fundo do estuário de Santos. Preocupa que essa cava encontra-se em zona sensível, próxima a importantes manguezais, que abrigam e protegem a vida de frutos do mar, peixes, siris, caranguejos, ostras e mariscos, consumidos pela população.
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O mundo que exige sustentabilidade não permite que a lâmina d’água para receber navios de maior calado no TIPLAM silencie a verdade sobre as decisões que nortearam a solução pela cava submersa para depositar material tóxico. Por isso, a partir do próximo dia 4 de março, Portogente promoverá o ”WebSummit a cava da VLI no Porto de Santos”. Será um debate aberto na Internet, com a participação de especialistas nacionais e mundiais, sobre essa solução técnica atinente à perenidade da vida no Planeta.