Sexta, 13 Dezembro 2024

Conselheiros, patrocinadores e convidados do Fórum Nacional Brasil Export tiveram acesso, nesta segunda-feira, a uma apresentação de alto nível sobre como o blockchain pode revolucionar a logística mundial e a respeito das principais características da rede TradeLens, plataforma setorial aberta e neutra voltada ao transporte marítimo e que hoje já registra mais de 1 bilhão de transações efetivadas. A apresentação foi feita pelo líder técnico da IBM Blockchain Services para a América Latina, Carlos Henrique “Kiko” Duarte, em iniciativa do Brasil Hack Export, maratona online de desenvolvimento tecnológico promovida pela organização do Fórum em parceria com a Zero Treze Innovation Space.

carloseduardo kikoduarte

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Moderador do webinar, o Conselheiro Nacional do Brasil Export e diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Angelino Caputo e Oliveira, destacou a importância de apresentar assuntos de tecnologia com linguagem de fácil compreensão para o público de formadores de opinião e tomadores de decisão que forma os Conselhos do Fórum. “Muitas oportunidades são perdidas pelo distanciamento de conceitos entre os profissionais de tecnologia e quem deseja investir”. Ele apontou o blockchain como uma das cinco principais tecnologias que formam o movimento classificado como “quarta Revolução Industrial” e a possibilidade de aprimoramento da cadeia logística global ao trabalhar a ferramenta junto a avanços promovidos pelas aplicações de inteligência artificial e de “big data”.

Kiko Duarte contou aos participantes da atividade digital que a IBM começou a trabalhar com blockchain em 2015, no conceito de redes abertas. Em uma rede de negócios como a TradeLens, explicou, todos os registros de transações são feitos em um espaço único e compartilhado entre todos os associados. “Somente registros de transações podem ser feitos nesse ‘caderninho’, mais nenhuma informação. Passa a estar ‘escrito na pedra’, não dá mais para apagar”. Afinal, uma rede de blockchain garante a imutabilidade das informações, sem possibilidade de alterações ou transformações dos registros. As regras de negócio são pré-estabelecidas de forma consensual entre todos os participantes e executadas em contrato eletrônico.

Cinco anos após o início dos trabalhos, a TradeLens já conta com dezenas de portos e terminais interligados, mais de 10 Aduanas participantes, provedores de transporte multimodal e gigantes do transporte marítimo como MSC, Hamburg-Sud, Hapag-Lloyd e CMA-CGM. Duarte disse que a rede teve início como um projeto de “tecnologia tradicional” desenvolvido para a Maersk com o objetivo de digitizar processos de papeis. “Em 2016 surgiu a ideia de interligar vários dos atores envolvidos com a empresa utilizando blockchain”. A tecnologia adotada passou a ser um facilitador para operações mais seguras e simplificadas de importação e exportação de contêineres. O profissional da IBM ressaltou que a presença de empresas concorrentes na mesma rede é assegurada pelo fato de cada uma delas somente ter acesso às informações a que têm direito na interação, estabelecidas sob contrato eletrônico e conforme regras e padrões da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Alguns empreendimentos instalados no Brasil já formalizaram a adesão à TradeLens, como a Santos Brasil, terminais da APM em Itajaí (SC) e Pecém (CE) e operadores intermodais localizados no estado de Minas Gerais. Informações dos participantes das redes de negócios, detalhou Kiko Duarte, são públicas, mas as transações ficam ocultas, ao contrário do que acontece em plataformas de criptomoedas, nas quais se conhece as transações, mas não os nomes dos envolvidos. Ele afirmou que os associados podem inclusive contribuir com processamento, em papel denominado “nós”. A função dos nós é manter e distribuir cópias dos registros da blockchain. Os terminais brasileiros participantes da TradeLens, por exemplo, desempenham o papel de “nós”. Há, também, os usuários finais, que podem apenas usufruir do serviço prestado. Como não há criptomoedas envolvidas na rede de transporte marítimo, a “mineração” não é realizada.

Outra vantagem do desenvolvimento de redes de blockchain, destacou Kiko Duarte, é digitizar (não confundir com digitalizar!) processos, tornando procedimentos 100% digitais e sem uso de papel em qualquer nível. “Trilhões de dólares de bens são transportados todos os anos por fronteiras de todo o mundo e, em sua maioria, pelo transporte marítimo. Otimizar os procedimentos aumenta a eficiência das transações, mas pode aumentar propriamente a quantidade de transações”.

A TradeLens é baseada no Hyperledger Fabric, um conceito de programação de código aberto em que desenvolvedores de blockchain se comunicam com especialistas da indústria e clientes comerciais para criar uma comunidade neutra. Questionado sobre a aplicação do blockchain em ferramentas relacionadas à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Kiko Duarte disse que não há nada de concreto até o momento, mas que o uso da plataforma é “perfeitamente possível”.

 
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Bruno Merlin


Bruno Merlin é redator e jornalista especializado nos temas logístico e portuário. Graduado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), há dez anos colabora com o Portogente, além de publicar reportagens em outros veículos como Folha de S. Paulo, SBT/VTV e Revista Textilia.

E-mail: brunomerlin@portogente.com.br