História do projeto
O histórico do projeto remete ao ano de 1975. com o início dos estudos do chamado Inventário Hidrelétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, fato este que deu início também as projeções e estudos de viabilidade, antes consistentes em duas usinas, Babaquara e Kararaô, nome este alterado para Belo Monte em respeito ao povo indígena. Em 1989, ano desta mudança, ocorre uma imagem marcante do longo processo: uma índia, chamada Tuíra, levanta-se e põe seu facão contra o pescoço do presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz, que discursava sobre a construção. Em 1994, visando atrair investimentos de capital estrangeiro e minimizar tensões com grupos ambientalistas, o projeto sofre algumas mudança, como, por exemplo, a preservação da Área Indígena Paquiçamba de inundação. Em dois anos (2001/2002), o projeto sofre com polêmicas ferrenhas: é divulgado um plano de emergência de US$ 30 bilhões para aumentar a oferta de energia no país, o que inclui a construção de 15 usinas hidrelétricas, entre elas Belo Monte, fato este que leva a Justiça Federal determina a suspensão dos Estudos de Impacto Ambiental da usina, além de, por parte do então presidente Fernando Henrique Cardoso, crítico de grupos ambientalistasao afirmar que a oposição à construção de usinas hidrelétricas atrapalharia o País, realizada a contratação uma consultoria para definir a forma de venda do projeto de Belo Monte Em resposta, o, no momento, candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, lança um documento intitulado O Lugar da Amazônia no Desenvolvimento do Brasil, que cita Belo Monte e especifica que "a matriz energética brasileira, que se apoia basicamente na hidroeletricidade, com mega obras de represamento de rios, tem afetado a Bacia Amazônica". Em 2006, o processo de análise do empreendimento é suspenso e impede que os estudos sobre os impactos ambientais da hidrelétrica prossigam até que os índios afetados pela obra fossem ouvidos pelo Congresso Nacional. Durante um encontro, o Xingu para Sempre, índios entraram em confronto com o responsável pelos estudos ambientais da hidrelétrica, Paulo Fernando Rezende, ferindo-o com um corte no braço. Após o evento, o movimento elabora e divulga a Carta Xingu Vivo para Sempre, que especifica as ameaças ao Rio Xingu e apresenta um projeto de desenvolvimento para a região e exige sua implementação das autoridades públicas. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, de Brasília, autoriza a participação das empreiteiras Camargo Corrêa, Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez nos estudos de impacto ambiental da usina. Nos três últimos anos, os passos mais importantes foram dados: em 2009, a Justiça Federal suspendeu o licenciamento e determinou novas audiências para Belo Monte, conforme pedido do Ministério Público. O Ibama voltou a analisar o projeto e o governo passou a depender do licenciamento ambiental para poder realizar o leilão de concessão do projeto da hidrelétrica, previsto para 21 de dezembro. O secretário do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, propõe que o leilão seja adiado para janeiro de 2010. A licença é publicada em 1º de fevereiro, e o governo marca o leilão para 20 de abril, vencido pelo Consórcio Norte Energia, que ofereceu menor preço oferecido pela energia elétrica da futura usina. o governo brasileiro enfrentaria, pelo menos, 15 questionamentos judiciais sobre a viabilidade econômica da obra e os impactos sociais e ambientais na região, sendo 13 deles feitos pelo Ministério Público Federal paraense, o que levou ao governo federal garantir que, se preciso, construirá a usina sozinho. Neste ano, o Ibama concedeu ao mesmo consórcio uma licença válida por 360 dias para a construção da infraestrutura que antecede a construção da usina, em obras infraestruturais antecedem a construção de Belo Monte. O procedimento envolve a autorização para o desmatamento de 238,1 hectares, sendo 64,5 hectares localizados em Área de Preservação Permanente (APP). O órgão, porém, define que o consórcio terá de recompor a quantidade desmatada da APP, bem como condicionou que o processo de desmate não seja feito com uso do fogo e não sejam feitos descartes em aterros e mananciais hídricos. A emissão da licença aconteceu após reuniões com órgãos públicos, índios citadinos, índios jurunas, associações de moradores e representantes de pescadores, além de uma vistoria técnica realizada em novembro de 2010. A autorização permite que o consórcio inicie o procedimento de acampamento, canteiro industrial e área de estoque de solo e madeira. O Ministério Público Federal no Pará, no entanto, não teve acesso ao documento integral emitido pelo Ibama, contrariando recomendação de que as licenças não devem ser fragmentadas afim de acelerar o licenciamento. Ainda de acordo com o ministério, as condicionantes da Licença Prévia 342/2010 não foram resolvidas de acordo com o previsto, o que não assegura a legalidade do procedimento. Por fim, no dia 18/02/2011, a Nesa (Norte Energia S.A.) assinou o contrato do consórcio vencedor no valor de R$ 13,8 bilhões para construção da usina, esperando obter um financiamento de R$ 19 bilhões para a obra orçada em R$ 25 bilhões. A Usina de Belo Monte deve começar a operar em fevereiro de 2015, mas as obras seguirão até 2019.
O Consórcio
A Norte Energia S. A.- NESA, composta por empresas estatais, privadas, empreiteiras, fundos de pensão, fundos de investimento e consumidores, firmará contratos de comercialização de energia elétrica no ambiente regulado, com as concessionárias de distribuição, no montante de R$ 62 bilhões, relativos ao fornecimento de 795 mil Mwh. Para explorar o potencial hidrelétrico, a concessionária recolherá à União, como pagamento pelo uso de bem público, o valor anual de R$ 16,6 milhões, além de cerca de R$ 200 milhões que serão pagos à União, ao estado do Pará e aos municípios impactados, referentes à compensação financeira pela utilização de recursos hídricos. Com estimativa de iniciar as operações no dia 31 de dezembro de 2014 e a comercialização do serviço em fevereiro de 2015, Belo Monte será a maior usina hidrelétrica brasileira e a terceira maior do mundo. Segundo o Ministério de Minas e Energia, sua construção deve gerar cerca de 20 mil empregos diretos.. Para compatibilizar os interesses energéticos com a sustentabilidade ambiental, a área alagada foi diminuída. A usina teve o reservatório reduzido em relação ao projeto inicial e a área de alagamento diminuiu 60%. Enquanto a média nacional de áreas alagadas pelas usinas hidrelétricas é de 0,49 km2 por MW instalado, Belo Monte impactará apenas 0,04 km2 por MW instalado. O empreendimento integra o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que é uma prioridade do governo federal. Sua entrada em ação propiciará mais oferta de energia e mais segurança para o Sistema Interligado Nacional (SIN), com melhor aproveitamento das diferenças hidrológicas de cheia e seca nas diversas regiões do País. A obra não conta com isenção de impostos diferente daquelas concedidas a outras usinas ou a qualquer empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ou daqueles localizados em área de atuação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). A Licença Prévia de Belo Monte foi concedida pelo Ibama em 01/02/2010, tendo como um dos requisitos a realização de audiências públicas, com participações de cerca de 5.000 pessoas. Conforme a própria denominação, esta licença exige o cumprimento de um conjunto de condicionantes dentro de prazos estipulados. Adicionalmente, para efeito de obtenção da Licença de Instalação, um conjunto de planos socioambientais devem ser detalhados e constar do Relatório do Projeto Básico Ambiental. No caso de Belo Monte, as ações socioambientais propostas no EIA/RIMA foram consolidadas em Planos (19), Programas (53) e Projetos (58), abrangendo as áreas de gestão ambiental e institucional, meio físico, meio biótico e meio socioeconômico. Ressalta-se que grande parte das condicionantes reforçam ou complementam o conjunto de Planos, Programas e Projetos propostos no EIA/RIMA. Os benefícios do projeto Belo Monte transcendem à implantação de uma fonte de geração renovável e econômica para suprir necessidades do Estado do Pará, da região Norte e do Brasil. A exemplo de outros aproveitamentos hidroelétricos, existem benefícios associados à preservação ambiental de áreas na bacia hidrográfica, além do aumento dos indicadores de desenvolvimento humano nos municípios abrangidos. Assim, além de sua inserção regional, o projeto do Belo Monte pretende ainda alavancar o contexto de desenvolvimento regional. Somente a título de pagamento da Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH), mais conhecida como royalties, a UHE Belo Monte contribuirá anualmente com cerca de R$ 140 milhões, sendo R$ 70 milhões destinados ao estado do Pará e outros R$ 70 milhões aos municípios atingidos pelo reservatório. Adicionalmente, a AHE Belo Monte está inserida no Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS) do Xingu, que faz parte da parceria entre o Governo Federal e o Governo do Estado do Pará, tendo como objetivo promover o desenvolvimento sustentável da região com foco na melhoria da qualidade de vida dos diversos segmentos sociais a partir de uma gestão democrática, participativa e territorializada. A participação da AHE Belo Monte está associada ao Eixo Temático 2 – Infra-Estrutura para o Desenvolvimento/Energia, onde aportará, segundo o seu Edital de Leilão, cerca de R$ 500 milhões.
Discussões concomitantes à realização da obra
Existem vários movimentos extremamente contrários a obra. Os argumentos apresentados são de qu a construção da hidrelétrica irá provocar a alteração do regime de escoamento do rio, com redução do fluxo de água, o fato de que a obra irá inundar permanentemente os igarapés Altamira e Ambé, que cortam a cidade de Altamira, e parte da área rural de Vitória do Xingu; o transporte fluvial até o Rio Bacajá, um dos afluentes do Xingu, será interrompido pela incessante vazão de água, sendo este é o único meio de transporte para comunidades ribeirinhas e indígenas chegarem até Altamira. A alteração da vazão do rio, segundo os especialistas, alterará todo o ciclo ecológico da região afetada que está condicionado ao regime de secas e cheias, com a geração de regimes hidrológicos distintos para o rio: o alagamento permanente da área apodrecerá as raízes das árvores, que são a base da dieta de muitos peixes, que também fazem a desova no regime de cheias, portanto, estima-se que na região seca haverá a redução nas espécies de peixes, impactando na pesca como atividade econômica e de subsistência de povos indígenas e ribeirinhos da região. O fato da usina não possuir reservatório, estando assim condicionada ao regime de secas e cheias, leva ao questionamento de que em época de cheia a usina deverá operar com metade da capacidade, mas, em tempo de seca, a geração pode ir um pouco abaixo de 4,5 mil MW, o que somado aos vários efeitos sociais e ambientais coloca em xeque a viabilidade econômica do projeto. Abaixo, consequências do projeto, extraídas do Relatório de Impacto Ambiental, encomendado pela Eletrobras e efetuado pela Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht e Leme Engenharia, listou os impactos da hidrelétrica:
Geração de expectativas quanto ao futuro da população local e da região;
Geração de expectativas na população indígena;
Aumento da população e da ocupação desordenada do solo;
Aumento da pressão sobre as terras e áreas indígenas;
Aumento das necessidades por mercadorias e serviços, da oferta de trabalho e maior movimentação da economia;
Perda de imóveis e benfeitorias com transferência da população na área rural e perda de atividades produtivas;
Perda de imóveis e benfeitorias com transferência da População na área urbana e perda de atividades produtivas;
Melhorias dos acessos;
Mudanças na paisagem, causadas pela instalação da infra-estrutura de apoio e das obras principais;
Perda de vegetação e de ambientes naturais com mudanças na fauna, causada pela instalação da infra-estrutura de apoio e obras principais;
Aumento do barulho e da poeira com incômodo da população e da fauna, causado pela instalação da infraestrutura de apoio e das obras principais;
Mudanças no escoamento e na qualidade da água nos igarapés do trecho do reservatório dos canais, com mudanças nos peixes;
Alterações nas condições de acesso pelo Rio Xingu das comunidades Indígenas à Altamira, causadas pelas obras no Sítio Pimental;
Alteração da qualidade da água do Rio Xingu próximo ao Sítio Pimental e perda de fonte de renda e sustento para as populações indígenas;
Danos ao patrimônio arqueológico;
Interrupção temporária do escoamento da água no canal da margem esquerda do Xingu, no trecho entre a barragem principal e o núcleo de referência rural São Pedro durante 7 meses;
Perda de postos de trabalho e renda, causada pela desmobilização de mão de obra;
Retirada de vegetação, com perda de ambientes naturais e recursos extrativistas, causada pela formação dos reservatórios;
Mudanças na paisagem e perda de praias e áreas de lazer, causada pela formação dos reservatórios;
Inundação permanente dos abrigos da Gravura e Assurini e danos ao patrimônio arqueológico, causada pela formação dos reservatórios;
Perda de jazidas de argila devido à formação do reservatório do Xingu;
Mudanças nas espécies de peixes e no tipo de pesca, causada pela formação dos reservatórios;
Alteração na qualidade das águas dos igarapés de Altamira e no reservatório dos canais, causada pela formação dos reservatórios;
Interrupção de acessos viários pela formação do reservatório dos canais;
Interrupção de acessos na cidade de Altamira, causada pela formação do Reservatório do Xingu;
Mudanças nas condições de navegação, causada pela formação dos reservatórios;
Aumento da quantidade de energia a ser disponibilizada para o Sistema Interligado Nacional – SIN;
Dinamização da economia regional;
Interrupção da navegação no trecho de vazão reduzida nos períodos de seca;
Perda de ambientes para reprodução, alimentação e abrigo de peixes e outros animais no trecho de vazão reduzida;
Formação de poças, mudanças na qualidade das águas e criação de ambientes para mosquitos que transmitem doenças no trecho de vazão reduzida;
Prejuízos para a pesca e para outras fontes de renda e sustento no trecho de vazão reduzida.