A conduta intransigente da gerência de operação do terminal da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) chega nos limites da austeridade, ou melhor, da arbitrariedade. A situação relatada por um estivador e vivenciada por toda a categoria, vem ocorrendo há anos.
No último final de semana de 2006, mais de 50 estivadores precisaram de muita negociação para conseguir entrar no terminal da Cosipa, em Cubatão. O trabalho do grupo de 54 estivadores iniciaria às 8 horas de sábado, não fosse a falta de um deles. A ausência de um dos companheiros levou o chefe do terminal a proibir a entrada de todos os trabalhadores daquela faina. Justo? Ao que parece, a ponderação existe apenas de um lado.
Explica-se: o chefe do terminal poderia ter liberado a entrada dos ternos completos e dispensado aquele que estaria incompleto, ainda que o próprio grupo tenha dado uma solução para o caso com a substituição daquele por outro homem. Isso não ocorreu. A ordem era dispensar todos os 53 estivadores que lá estavam na manhã de sábado. Afinal, os funcionários da empresa tercerizada estavam a postos para iniciar o trabalho. Represália?
A “incoerência” da Cosipa fica ainda mais evidente se considerarmos que ao ocorrer um acidente de trabalho de qualquer natureza ou relevância, o terno, na maioria das vezes, não é dispensado e o trabalho sequer pode ser interrompido a mando dos gerentes operacionais.
Para acalmar os ânimos e iniciar uma negociação com a Cosipa, o Sindicato dos Estivadores foi acionado. Depois de muita conversa e da ameaça de invasão por parte dos estivadores, a entrada foi liberada.
“Nós estamos brigando pelos nossos direitos. Todos nós somos pais de família, temos responsabilidades e vamos lutar pelo que é nosso”, disse o 2º secretário do Sindicato dos Estivadores, Marco Antônio Bonfim.
Esse é apenas um dos fatos corriqueiros vivenciados pelos estivadores quando o assunto é trabalho na Cosipa.
Retaliação
Um acordo firmado no passado recente entre Cosipa e Sindicato dos Estivadores prevê que as operações sejam divididas igualmente entre os trabalhadores da Cosipa e os estivadores. Dessa maneira, ao atracarem dois navios no cais da siderúrgica, um deveria ser operado por funcionários tercerizados e o outro por estivadores. Mas, segundo o sindicato, a igualdade pára no papel. A infra-estrutura oferecida para cada operação é completamente diferente para os dois grupos, o que acaba afetando diretamente a produtividade dos trabalhadores, e no caso da estiva, para pior.
Por exemplo, o estivador ganha R$ 7,90 para cada embarque de 100 toneladas de placas, chapas e bobinas de aço. De acordo com a necessidade, denunciam os estivadores, por vezes é possível embarcar apenas 400 toneladas. Num mesmo dia, um navio de carga semelhante, operado por terceirizados da companhia, chega a carregar 800 toneladas, o dobro da turma da estiva. Cadê o Ministério do Trabalho? Será que o órgão máximo de fiscalização do trabalho consegue entrar na Cosipa?