Quarta, 27 Novembro 2024

Atuação dos bancos públicos no período contribuiu para um menor aprofundamento da crise no Brasil, segundo os autores.
Entre 2007 e 2015, a participação do saldo das operações de crédito – como empréstimos e financiamentos – das instituições bancárias públicas no crédito total aumentou de pouco mais de 35% para aproximadamente 55%, enquanto a dos bancos privados caiu de 65% para 45%. “Foi uma surpresa esse aumento tão expressivo da participação dos bancos públicos no mercado de crédito”, enfatiza Giuliano Contento de Oliveira, um dos autores do texto "A Dinâmica do Mercado de Crédito no Brasil no Período Recente (2007-2015)", que analisou esse cenário.

Os bancos privados dominaram a oferta de crédito no Brasil no período de 2003 a 2008. Foram tempos fartos: baixo desemprego; aumento dos rendimentos reais; expansão de políticas de transferência de renda. Mantiveram-se controlados os atrasos e a inadimplência, acompanhados de um crescimento da renda das famílias. No entanto, com a eclosão da crise internacional em 2008, os bancos privados tornaram-se menos propensos a emprestar. Os bancos públicos acabaram ocupando esse nicho e saíram à frente na oferta de crédito e expansão de suas operações – destaca-se o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“Não fosse esse papel anticíclico realizado pelos bancos públicos, a crise teria sido ainda mais severa, com uma profundidade ainda maior”, explica Giuliano, bolsista do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD) do Ipea e professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp). Ele aponta duas questões importantes: primeiro, a de existirem instituições públicas no sistema financeiro. Elas servem como contrapeso ao comportamento pró-cíclico assumido pelos bancos privados. “Naturalmente, os bancos privados acabam emprestando muito em tempos de bonança, mas diminuem o ritmo em tempos de crise”. A outra questão envolve a importância de aprofundar os mecanismos privados de financiamento na economia brasileira. “Não dá para o setor público trazer para si a responsabilidade do financiamento”, afirma o professor. Para ele, é fundamental pensar em novas formas de políticas financeiras que consigam estimular os bancos privados a emprestarem mais, mesmo em tempos de crise.

Também contribuiu com a pesquisa Paulo José Whitaker Wolf, doutorando em economia pela Unicamp. Os autores defendem que para a expansão das operações de crédito são necessárias condições não apenas microeconômicas adequadas, mas também macroeconômicas apropriadas, que consigam consolidar um mercado de crédito profundo, dinâmico e competitivo na economia brasileira.

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

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