Sexta, 29 Novembro 2024

Crise na Valec fez o desembolso só em ferrovias recuar 41% no 1º semestre. Documento da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) mostra que os investimentos públicos em transportes no país vinham caindo em ritmo de 26% no ano passado. Segundo o novo "Boletim de Logística", no segundo trimestre (dado mais atualizado disponível), o volume de investimentos públicos em logística no país diminuiu de R$ 2,7 bilhões em 2015 para R$ 1,98 bilhão no ano passado, em valores corrigidos até junho. O recuo nos investimentos tem sido maior no setor de ferrovias, com queda de 41% nos valores comparados no período em relação ao ano anterior.

“Os investimentos públicos federais reduziram em função do contingenciamento que a Valec vem sofrendo por conta do ajuste fiscal”, explica um trecho da análise incluída no documento da EPL.

A Valec é a estatal que cuida dos investimentos em ferrovias no país. Para se ter uma ideia do impacto da crise na empresa, o número de trabalhadores em duas das principais frentes de trabalho da estatal (Ferrovia Oeste-Leste e Ferrovia Norte-Sul) era de quase dez mil homens no começo de 2015 e chegou a 1.631 no início de 2016. Em outubro, dado mais atual da Valec, o número era de 2.929 homens trabalhando nas ferrovias.

Adailton Cardoso Dias, diretor de Planejamento da EPL, explica que a queda dos investimentos públicos reflete a retração econômica e a queda da arrecadação federal desde o fim de 2015, o que reduziu o volume de recursos disponíveis do governo.

— O investimento público é muito afetado pelo momento da economia. Caindo a arrecadação, tem uma queda quase imediata nos investimentos — disse Dias.

Segundo ele, os boletins, que serão elaborados nas versões trimestral e anual, servirão para melhorar o planejamento e as políticas públicas do setor de transportes. No caso dos investimentos privados em ferrovias, das empresas concessionárias, também houve recuo, de 30%, segundo dados apontados pela EPL.

“Tal redução pode ser atribuída em parte ao fato de algumas concessionárias estarem renegociando contratos e consequentemente postergando novos investimentos”, destacou a EPL.

No fim do ano passado, o governo propôs ao Congresso a Medida Provisória 752 para tratar da renovação de contratos de concessão de transportes e relicitações. Pela proposta, o governo prevê uma disparada dos investimentos no setor ferroviário, principalmente pela renovação de contratos que estariam segurando a execução de novas obras. A previsão é de pelo menos R$ 10 bilhões em novos investimentos para o setor.

No caso das rodovias federais, o recuo de investimentos públicos foi de 24,3% entre abril a junho de 2016 em comparação com o mesmo período de 2015, também refletindo contenção de despesas do governo.

Contração maior
No setor aeroportuário, segundo a EPL, os investimentos da Infraero nos aeroportos da rede tiveram queda de 26,18% no segundo trimestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano anterior — todos os valores são corrigidos pelo índice de inflação IGP-DI.

Além de justificar a queda pelo fato de a Infraero ter tido receitas reduzidas com as concessões de seus principais aeroportos, a EPL aponta que “a empresa passou a ser dependente da União, o que complicará ainda mais a realização de novos investimentos”.

O melhor resultado foi percebido no setor aquaviário, que envolve transporte por mar e rios. Mas também é o menor em valor. Os investimentos públicos subiram 9%, de R$ 110 milhões para R$ 120 milhões, puxados pelas hidrovias, porque os investimentos públicos em portos caíram.

“O total de cargas movimentadas nas hidrovias brasileiras saltou de 19 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2015 para 23 milhões no primeiro semestre de 2016, equivalendo a um acréscimo de 20% no período”, segundo o informe da EPL.

Os desembolsos do Fundo da Marinha Mercante para investimentos privados caíram quase pela metade, para R$ 760 milhões no segundo trimestre deste ano.

A consultoria Inter.B prevê que os investimentos em infraestrutura deverão cair, em 2016, aproximadamente 14,6%.

“Assim, a contração do ano corrente (2016) seria ainda mais expressiva do que a observada em 2015, e possivelmente o ‘fundo do poço’ do ciclo recessivo”, informou a consultoria no seu último relatório de infraestrutura.

Segundo a Inter.B, a queda maior nos investimentos no ano passado em toda a infraestrutura foi percebida exatamente no setor de transportes, cerca de 20% — o estudo inclui no setor de transportes a mobilidade urbana.

A EPL também apontou queda dos fretes e tarifas. No caso das estradas, o recuo entre o segundo trimestre de 2016 e o do ano anterior foi de 1%. Já as passagens aéreas caíram 3,5% no período. A exceção foi o transporte por trens, com alta de 2,8%. O volume de cargas transportadas por trens também subiu, 3,3%.

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