A morte do eletricista Tiago Ramos Constantino há menos de um mês no terminal açucareiro Copersucar do Porto de Santos ainda não foi assimilada pela sua família. A mãe Neusa, inconformada, parece aguardar a volta do filho a qualquer momento. Desolados, pai e irmãos querem saber de fato o que ocorreu na madrugada de 27 de dezembro de 2006.
A única lembrança da dona de casa, de 44 anos, é a do momento em que chegaram em sua casa, no Jardim Nova República, em Cubatão, para dar a notícia trágica.
“Eu estava esperando o meu filho chegar quando vi o pessoal vindo aqui me avisar. Pensei que tinha acontecido algum acidente dele com a moto. Pediram para chamar alguém da minha casa para dar a notícia. Aí chamei o meu marido dizendo: levanta, Jorge, que ele vai dar uma notícia ruim. Mandaram a gente para o hospital. Quando chegamos lá não deixaram a gente ver o Tiago porque ele já estava morto”.
Familiares dizem que Tiago era um rapaz esforçado e estava muito feliz no novo emprego. Em fevereiro, ele completaria um ano trabalhando na Montcalm, empresa prestadora de serviços contratada pela Copersucar. O jovem investia em especializações visando uma promoção na empresa. Freqüentava o curso de eletrotécnica do Senai de onde seguia, todos os dias, para o Porto de Santos.
A exemplo do pai de criação, também eletricista, Tiago queria ajudar a mãe. “Ele tinha muitos sonhos. Sempre dizia que queria me ajudar e vencer na vida. Um dos sonhos era o de comprar uma moto, e ele conseguiu há seis meses. Todos os dias ele ia feliz trabalhar com ela. Eu achava que o Tiago poderia se acidentar com a moto, jamais dentro do Porto”, fala a mãe.
Dias depois do acidente, a família encontrou uma carta antiga em que Tiago pedia a Deus para ajudá-lo a passar num concurso que havia prestado. Dizia que se fosse aprovado, ele freqüentaria a igreja todos os domingos e faria a doação de cestas básicas a entidades carentes.
A mãe tem rezado para aceitar a perda do filho. Os outros quatro irmãos de Tiago estão acompanhando o caso e tomando as providências legais. O pai de Tiago, eletricista aposentado pela Usina Henry Borden, também está desnorteado.
“Para uma mãe é difícil acreditar. Um filho cheio de vida... Acontecer um negócio desse, não dá para acreditar. Ele era muito apegado a mim, vivia brincando comigo”.
O dia do acidente
De acordo com o boletim de ocorrência registrado na Delegacia do Porto de Santos e feito por um inspetor da Guarda Portuária, Tiago realizava reparos elétricos junto ao Carregador de Navio 2 (shiploader) no Terminal 21 Copersucar quando caiu ao solo, por volta das 3h30, sendo socorrido e encaminhado ao P. S. Central, onde morreu.
Porém, uma outra versão dá conta de que Tiago sofrera um choque elétrico em cima de uma plataforma enquanto realizava os reparos. E que um colega de trabalho teria tentado reanimá-lo com massagem e respiração, porém sem sucesso. De acordo ainda com esta versão, ele estaria morto em cima da plataforma e, posteriormente, teriam sido necessárias seis pessoas para retirá-lo do local.
Em contato com a Montcalm, funcionário da área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, disse que a responsabilidade pela parte elétrica no momento do trabalho era da Copersucar. O coordenador do terminal Copersucar, o engenheiro Márcio César, assegura que todos os procedimentos e normas de segurança foram realizados.
Ele só não conseguiu responder quem era o responsável pela operação no momento do acidente. Nem Montcalm nem Copersucar sabem quem estava lá chefiando a operação.
A família, que não pôde ao menos ver o corpo de Tiago antes do velório, faz uma pergunta. Tomando por base que o corpo chegou ao IML por volta das 12 horas e de que segundo laudo de exame de corpo de delito o tempo estimado de morte seria de 10 horas, o óbito teria acontecido por volta das 2h da madrugada. O prontuário médico aponta que o resgate chegara ao P.S. às 3h30. O que acontecera das 2h às 3h30?
A irmã Vanessa faz outro questionamento: “se a eletricidade estava impedida como ele sofreu um choque elétrico?”.