A implantação de um trem de passageiros intercidades ligando as cidades de Americana e São Paulo, depende de uma série de etapas burocráticas e vontade política para sair do papel e pode levar oito anos. A opinião é do engenheiro civil Creso Peixoto, especializado em infraestrutura do transporte. O trem, um projeto do governo do Estado discutido em audiência pública realizada na Câmara Municipal de Americana, no dia 23 de outubro último, deve ser construído em parceria com a iniciativa privada, mas ainda não há prazo nem valores definidos.
Foto: Câmara Municipal de Americana
Mesa da audiência pública realizada na Câmara Municipal de Americana
sobre trens de passageiros ligando a cidade à Capital paulista
Em 2012, o governador Geraldo Alckmin disse que a obra começaria em 2014. Peixoto crê que dois ciclos governamentais - oito anos - seriam suficientes caso o planejamento e a execução sejam feitos da maneira ideal.Fernando José Pinto, ex-presidente da Assef (Associação dos Engenheiros Ferroviários no Estado de São Paulo), disse não ser possível estimar tempo diante da série de pormenores exigidos pela obra. A ideia é que o trem faça o trajeto inteiro (Americana a São Paulo) em 50 minutos e atinja velocidade de até 160 km/h. Para que os sistema funcionem, o Estado calcula que serão necessárias obras de reforma ou construção de novas estações, o fim das passagens de nível dentro dos municípios e mudanças no traçado da linha férrea, cujas curvas atrapalhariam a velocidade das composições.
Licenças
Segundo Peixoto, também pode haver problemas nas licenças ambientais, em desapropriações e na revitalização da malha ferroviária, que está desgastada.
"O transporte de passageiros se extinguiu em função do alto grau de dormentes desgastados. Com a troca dos trilhos e dormentes, seria possível resgatar o transporte ferroviário", disse. O especialista afirma que, com base em dados históricos, cada quilômetro de linha custa U$ 1,5 milhão, valor que considera barato diante dos U$ 2,5 milhões/km gastos na Rodovia dos Bandeirantes e dos U$ 22 milhões/km na Rodovia Carvalho Pinto, que foi a mais cara em função de questões de licenciamento, segundo ele.
O engenheiro avalia que seriam necessários quatro anos para planejamento e preparação da obra, com a obtenção de licenças ambientais, desapropriações, reintegração de posse em áreas invadidas, captação de recursos e alinhamento entre os governos federal, estadual e os municipais. "Tecnicamente pode-se fazer de forma rápida, como no Brasil se pensa em mandatos políticos (de quatro anos), dá para fazer em dois períodos, é possível maturar em um período e concluir no outro."
Peixoto disse que a obtenção de licenças ambientais é um dos maiores problemas nesse tipo de obra, pois segundo ele a legislação ambiental é "subjetiva", aberta a interpretações. "É subjetiva, o que torna a lei de aplicação complexa, a leitura dá interpretações diferentes, cria espaço para questionamentos jurídicos." Peixoto explicou que muitas obras atrasam em função de serem iniciadas sem todas as licenças. Fonte: Jornal Todo Dia