Sábado, 23 Novembro 2024

Portogente se debruça de forma holística no mundo portuário, sem preconceitos e com imparcialidade. Por isso, aqui temos as vozes dos empresários, dos especialistas, dos acadêmicos, dos trabalhadores. Todos estão convidados a falar e debater, de forma séria e democrática, esse mundo tão apaixonante chamado porto. Nesta semana, o nosso convidado especial é Luiz Fernando Barbosa Santos, trabalhador portuário avulso conferente de carga e descarga, representante dos trabalhadores junto ao Conselho da Administração Portuária (CAP) do Espírito Santo e assessor da Intersindical da Orla Portuária capixaba. Ele é dono de uma inteligência e sapiência ímpar sobre os portos e todas as suas interfaces. Nesta primeira parte de uma boa e grande entrevista, Santos falará sobre quem é o trabalhador que hoje executa sua faina no "chão portuário".

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Portogente - Quem é o trabalhador portuário brasileiro hoje? Quais foram as principais mudanças no perfil desse trabalhador e porque? O senhor poderia identificar a partir de quando esse trabalhador mudou?
Santos - O trabalhador portuário de hoje é um profissional com escolaridade média e uma visão muito positiva da importância dos portos para o desenvolvimento econômico e social do País. A mudança do perfil dos trabalhadores nos portos está intimamente ligada à mudança no perfil das embarcações e das cargas. Antes o perfil das embarcações e cargas tinha por característica a carga ser manuseada e, para sua movimentação, precisava do vigor físico e intensivo em mão de obra. Hoje, com a introdução dos novos métodos de movimentação e do processo acelerado de modernização dos navios, temos certa padronização dos navios às cargas decorrentes, principalmente, do processo de unitização derivados da conteinerização, levando a um processo intensivo em capital. Não existe uma data precisa, em uma linha do tempo, para que se possa dizer que a partir deste ponto o trabalhador mudou. É um processo de mudança que se iniciou com o uso das empilhadeiras e paletes, culminando com a introdução do contêiner, se estendendo até hoje, ou seja, um processo ainda não concluso, diria.

Portogente - O senhor poderia fazer uma linha do tempo, na visão do trabalhador, do portuário dos sacos nas costas aos contêineres?
Santos - Como havia respondido anteriormente, não há data fixa em que um evento cessou, no caso o manuseio de cargas ensacadas, e o início de outro, no caso os contêineres. Na verdade foi um processo contínuo de migração, chegando a um ponto que a mudança do perfil das embarcações e, logicamente, das exigências dos importadores destes produtos ensacados, exigiu uma nova forma de acondicionamento e transporte. Quem não se adaptou, logicamente perdeu mercado.

Portogente - Ao mesmo tempo em que se fala em portos nacionais mais produtivos e competitivos há uma redução dessa mão-de-obra no “chão portuário”?Porque?
Santos - O processo intensivo em capital que se está implantando nos portos e, precisamente, a revolução dos contêineres no setor portuário, leva a uma menor demanda de mão de obra no cais. Mas as atividades intensivas em mão de obra não deixaram de existir. Elas são transferidas para áreas longe dos portos ou para os próprios locais de produção, com o uso da modalidade de transporte porta-a-porta pelos contêineres. Os manuseios das cargas são feitos no lugar de produção e de consumo, deixando de ser realizado nos processos intermediários de transporte ou, diretamente, na faixa do cais. 

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