Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) são peças fundamentais quando o assunto é a segurança do trabalhador portuário. No entanto, não basta proteger trabalhador por trabalhador. O tamanho e a diversidade de um complexo portuário geram ambiente propício para que aconteça os mais diferentes tipos de acidente. Um capacete, por exemplo, não evitará a morte de uma pessoa que seja atingida por um contêiner. Por isso, além dos EPI’s, os terminais e os veículos que lidam com grandes quantidades de carga precisam utilizar os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC’s).
De acordo com a Norma Regulamentadora (NR) nº 10, o EPC é todo “dispositivo, sistema, ou meio, fixo ou móvel de abrangência coletiva, destinado a preservar a integridade física e a saúde dos trabalhadores, usuários e terceiros”. Devido a sua relevância, esse tipo de equipamento precisa ter qualidade e estar de acordo com as normas estabelecidas para sua fabricação.
O técnico em segurança do trabalho, André Luís Lopes, é gerente de qualidade da Tecnotextil, fábrica de Santos que produz cintas de poliéster para amarração e elevação de cargas. Ele afirma que as cintas são consideradas EPC e que o material auxilia em grande escala o trabalho e a segurança dos trabalhadores portuários. “É muito mais seguro do que a utilização de cabos de aço. Não machuca o produto e, principalmente, o trabalhador. As cintas facilitam no manuseio, pois podem ser dobradas e evitam com que o trabalhador fure ou machuque as mãos”.
Lopes, como funcionário da Tecnotextil desde 2002, participa das discussões para a elaboração de uma norma técnica nacional – organizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – que visa a produção, uso e comercialização das cintas de amarração e elevação no Brasil. “Dentro de cerca de 60 dias a norma deve sair. Com isso o país deve ganhar com a qualidade e a segurança, ajudando a evitar acidentes na movimentação de mercadorias”. A associação forma comitês tripartites de trabalho. Os comitês reúnem todos os interessados: os usuários (representados pelos sindicatos), os fabricantes e o lado patronal.
Junto com o corpo técnico da empresa, Lopes traduziu as normas EN 1492-1/2 e EN 121/95 para serem utilizadas como referência pelo grupo CB-17 (um dos núcleos operacionais da ABNT) para a elaboração da norma brasileira. “A norma está em discussão há quase dois anos, pois há muitos conflitos e jogos de interesses”. Com a norma, todas as fábricas serão obrigadas a possuir um laboratório de testes para avaliar o produto que foi produzido.
Para o gerente de qualidade, há muitos profissionais que desrespeitam as normas de qualidade. “O nosso produto é o mais caro do mercado, mas não abrimos mão da qualidade. O meio de equipamentos de segurança é grande, mas muitos preferem utilizar materiais cujo custo é mais baixo. No entanto, a resistência também perde com a economia”. Ele cita que é importante, também, que as cintas acompanhem proteções para que o material não seja danificado ou até mesmo rasgado.
Lopes é técnico em segurança do trabalho há 22 anos e chegou a ser professor da área. Para ele as condições de trabalho no Porto de Santos não evoluíram como deveriam. “A segurança portuária ainda é muito precária; falta conscientização. É preciso entender que evitar acidentes é melhor para todos”. Outra área que a empresa atende e que Lopes considera ainda muito preocupante em termos de falta de segurança é a da construção civil.
Poliéster
O poliéster, que serve de matéria-prima para a fabricação das cintas de elevação e amarração, é a mais forte das fibras sintéticas e apresenta uma alta capacidade de absorção de força. Lopes explica que o material possui grande resistência a sucessivos carregamentos. O poliéster possui muitas outras aplicações industriais, em especial na produção de tecidos para fabricação de roupas. A fabricação das cintas com esse tipo de material faz com que seja possível ajustá-las perfeitamente ao contorno da carga.
Embora haja grande preocupação em torno do material, especialistas da área de segurança e demais envolvidos com a atividade portuária ressaltam que falta conscientização por parte dos trabalhadores. Os equipamentos têm de ser utilizados de forma correta e considerados como proteção à saúde física e à vida.
Devido a esse cenário, o diretor-presidente da Tecnotextil, Luciano Manuel Pereira Vaz, acrescenta que a empresa não vende a cinta simplesmente. “Quando o cliente nos procura apresentamos a melhor maneira de movimentar a carga, inclusive com o desenvolvimento ou a adaptação de olhais, terminais de fixação e ancoragem de acordo com as necessidades e características de cada modal”.
Leia também:
* "Não há cultura para o uso de cinto de segurança"