Dono de um bom humor e memória invejáveis, o ex-chefe da sala de desenho da Codesp, José Ferreira, acaba de completar 93 anos de vida. Ingressou na antiga CDS (Companhia Docas de Santos) em 1941, aos 28 anos de idade e ao longo de sua carreira foi responsável por projetos importantes como o de linhas férreas, postos de manutenção, entre outros.
Quando menino, aos 13 anos, iniciou seus primeiros traços. Trabalhou ainda jovem na indústria de bebidas Antarctica, em Santos, época inesquecível para ele. Lembra-se de ter feito um desenho de um carro alegórico com uma garrafa de sete metros... O máximo para a época.
Oriundo de uma família muito pobre, Ferreira foi aprender a desenhar no Instituto de Educação Dona Escolástica Rosa, na Ponta da Praia. Formou-se desenhista técnico para, então, ingressar na CDS. Por lá permaneceu até 1969 quando se aposentou.
Mas a paixão pela arte sempre esteve impregnada na alma desse renomado santista. Durante toda a sua vida, até hoje, Ferreira esbanjou sensibilidade nas suas telas de igrejas, casarios e paisagens pintadas à óleo.
O artista plástico, segundo ele, nasceu em 1937. Imaginem! São quase setenta anos de arte! A modéstia o deixa esquecer quantos quadros já pintou... quantos prêmios já recebeu... Mas o talento desse cidadão emérito lhe rendeu prêmios mundo afora. Suas obras já viajaram a Europa, América, todo o Brasil. A sua tela “Palácio Monroe” foi adquirida pelo Senado Federal em 1977.
Foi medalha de prata em 1974 e ouro em 1975, na Sociedade Brasileira de Belas Artes, no Rio de Janeiro; medalha de bronze, no mesmo ano, no Salão Nacional de Belas Artes, também no Rio; recebeu o 1º lugar no concurso de Pintura Gabriela Mistral, promovido pelo Consulado do Chile e tantos outros.
A dedicação à arte só não é maior do que seu amor pela esposa, Irene Schiff Ferreira, falecida há dois anos. Companheira de 62 anos de casamento, sua eterna esposa também dividiu o dom pela artes plásticas. “Saudade horrenda da minha esposa. Irene era caprichosíssima, excelente artista”, revive Ferreira.
No ateliê da casa onde viveram quase sessenta anos de união, Ferreira e Irene pintavam juntos as obras de arte, hoje espalhadas por toda a casa. Tiveram dois filhos, três netos e cinco bisnetos. Pelos aposentos da aconchegante casa, há quadros espalhados e já determinados para cada um deles. Uma herança de ouro.
Ferreira, a sete anos de completar 100 de vida, ainda esbanja alto astral. Sente falta de sua esposa; o estímulo para pintar já não é, reconhecidamente, mais o mesmo.
Mas o que impressiona é o senso de humor desse jovem de 93 anos. Sorridente e divertido, até, recebeu a reportagem do PortoGente com toda a delicadeza e cordialidade de um homem que caminhou toda a vida alinhado com a ternura, o encanto e a docilidade do amor.