Sexta, 26 Abril 2024

O saite PortoGente aproveita a semana comemorativa ao Dia do Café para enaltecer o estereótipo do trabalhador portuário do café. Peça fundamental e primorosa de toda essa engrenagem econômica. 

 



Pensar em café, especialmente no cais, é vir à memória a imagem dos carregadores e ensacadores do grão. Homens que utilizam ao longo de décadas a força do corpo para transportar em cima da cabeça sacas e mais sacas de 60 quilos de café. Um ofício que predispõe exclusivamente de disposição e força muscular.

 

A rotina do emblemático trabalhador do café é contada por Martinho Silva Lima, 66 anos. O baiano chegou a Santos, cidade onde morava sua mãe, no ano de 1959. Era um jovem de 19 anos que vinha em busca do primeiro emprego. O registro que tem da primeira semana de trabalho é de extremo cansaço. Ele conta que pensou em desistir quando sentia as fortes dores no pescoço. Passou por dias duros. “Me deu uma dor tão grande no corpo, que me deu vontade de chorar. Ai, lembrei do Norte. Se tivesse um caminhão naquela hora e eu pudesse entrar nele, eu tinha ido. Mas, isso durou só na primeira semana. Para não esfriar o corpo, tomava um conhaque e continuava a trabalhar. Só assim que eu aguentava”.

 

Ele conta que retirava a carga do vagão do trem e levava para o armazém. Muitas vezes percorria uma distância de mais de 100 metros com a saca na cabeça. Naquela época a carga era levada ao porão do navio através de uma “escadinha”, onde os trabalhadores se enfileiravam e subiam e desciam incessantemente os degraus.

 

“Os fiéis de armazéns portugueses eram muito exigentes. Os colegas, quase de Portugal, eram muito trabalhadores, rendiam mais no serviço. Quase não se via brasileiro”.

 

A rotina realmente era muito pesada. Em oito horas de trabalho, chegava a carregar 350 sacas. Como ganhavam por produção, os ensacadores viravam a noite trabalhando, o que lhes rendia hora extra em torno de 300%. Martinho relembra que chegou a dormir somente cinco noites num período de dois meses. 

 

Segundo ele, o trabalhador naquela época era mais educado e respeitado pelos patrões. “Eles davam muito valor à gente, davam força, deixavam à vontade. O apoio moral é tudo na vida.”

 

Trabalhou até os 47 anos, quando se aposentou. Não suportou a idéia de não fazer nada. “Me senti uma pessoa abandonada. Acordava segunda-feira e não sabia o que iria fazer. Quase morri. Não tinha para onde ir. Ia para a padaria de manhã e só encontrava mulher”.

 

Ganhou peso e uma diabetes. Resolveu, então, voltar ao trabalho. Fez mais dois como ensacador, e depois decidiu ser pedreiro. Ficou mais dez anos nessa vida. O que ele faz hoje? “Não aguentei, voltei a trabalhar como ensacador”.

 

Exibe com orgulho a carteirinha de controle da glicemia. A marca à época de sua aposentadoria de 319 agora está em 87.

 

“Para mim esse trabalho é tudo na vida. Tudo que eu adquiri foi desse trabalho. Não conheço outra coisa para preencher o meu vazio.” Fez muitos amigos, entre eles o pai de João Menezes Lima. Um trabalhador evangélico, de 41 anos. “Ele não fala um só palavrão. A gente até briga com ele, mas ele não fala não”, conta seu padrinho Martinho.

 

O paranaense João iniciou a vida profissional aos 18 anos. Aprendeu o ofício com o pai e com o seu amigo Martinho. Chegou em 1982 à cidade de Santos, na ocasião de implantação do maquinário. Acompanhou os dois tipos de trabalho com escada e com dalas.

 

A recordação do primeiro dia não foi esquecida. “Deu muito medo, era peso demais na cabeça. Só não foi mais difícil por que o pessoal auxiliou”.

 

João e Martinho dizem que nos dias de hoje a categoria se ajuda  muito ainda. “Ninguém deixa o cara ir embora, só quando é boca dura que a gente deixa”, fala experiente Martinho.

 

Na ativa há 24 anos, João diz que o que mais preza é o ambiente de trabalho. Porém, sente saudades do início. “As pessoas eram mais educadas. “Eu preferia trabalhar na época do Martinho. Hoje os jovens não respeitam ninguém. Você não pode falar nada senão tem briga”.

 

O ofício sempre exige alguns cuidados. Os ensacadores chegavam a empilhar as sacas numa altura de 25 metros. Se não estiver bem encaixada uma saca qualquer, o bloco pode cair e matar na hora um deles. 

 

“Vi muita gente morrer. Bloco inteiro cair em cima do trabalhador. Mais de cinqüenta homens para tirar a sacaria de cima do amigo”, recorda Martinho.
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