Sexta, 19 Abril 2024

A despedida da fragata União, em janeiro de 2003, é uma lembrança que ainda está viva na memória do capitão-de-mar-e-guerra Marcos Nunes de Miranda, atual capitão dos portos do Estado de São Paulo. Último navio que comandou por quase dois anos, a fragata foi o ápice da sua carreira no mar. "O melhor navio é sempre o último", como ele mesmo gosta de recordar, e tem realmente um significado especial.

É hábito nas embarcações, ao término de uma faina de transferência de óleo, tocar uma música em alto volume antes de sair a toda força. Por inúmeras vezes a fragata União tocou a música "We are the Champions" no final de cada exercício como esse. Era a música que marcava a história do navio.

"Na hora em que eu estava desembarcando do navio toda a tripulação estava formada e o novo comandante resolveu fazer uma homenagem. Na hora em que eu estava descendo ele tocou a música "We are the Champions" para mim. A música começou a tocar e aí, desabei. Chorei muito". 

O capitão Miranda é um autêntico homem do mar. Há 34 anos na Marinha, confessa sua atração quase incontrolável pelos oceanos. "O mar sempre me emociona. Sempre que lembro do tempo que estava embarcado, ia para o mar, me emociono. Não tem jeito. Acabou meu tempo de ir para ao mar, mas sempre fico emocionado. Toda vez que vou para o mar fico olhando... lembrando todo aquele tempo que passei nos navios da Marinha, dias e noites a bordo conduzindo o navio, fazendo exercícios. Foram sempre momentos bons. O dia em que eu for embora, vou levar isso comigo para dentro do caixão, com certeza".

Dentre inúmeras idas e vindas entre a terra e o mar ao longo de sua carreira, ele conta que muitas foram as tentativas de "tirá-lo" de dentro dos navios. Pode-se dizer que a força e a vontade de estar embarcado presenteavam de tempos em tempos o marinheiro com um novo embarque.

"Na época em que era capitão-tenente eu só queria saber de navio, de estar embarcado. É como o médico especialista em cirurgia que só quer operar. Eu só queria ficar no mar".

As alegrias no mar foram muitas. O capitão Miranda lembra que no final da década de 70 chegaram as fragatas Defensora, Niterói, Constituição e Liberal. "Eram o xodó da época, uma revolução na Marinha do Brasil." As fragatas eram confortáveis, modernas e somente os oficiais antigos poderiam embarcar. Os modernos teriam que disputar uma vaga. E lá foi o comandante Miranda estudar, estudar muito para conseguir. 

"Durante o curso de comunicações eu sabia que só os primeiros teriam a chance de embarcar na fragata. Todo mundo queria embarcar. Eu lembro que estudei muito e fiquei em 2º lugar. E aí, consegui embarcar na Defensora".
Foram mais quatro anos e meio de aprendizado trabalhando em equipe. "Outra coisa fantástica que tem na Marinha é o trabalho em equipe. Em um navio não tem ninguém para te acudir. Você é um ponto isolado no meio do mar. Numa fragata, por exemplo, você tem 230 pessoas trabalhando em perfeita harmonia. Uma das maiores lições que a gente aprende na Marinha é trabalhar em equipe. Cada um depende do outro. Desde o marinheiro que descasca a batata para o rancho até o comandante, cada um é importante a bordo do navio para que aquilo tudo funcione. A gente costuma dizer que o navio tem alma, espírito. E esse espírito é formado pelas próprias pessoas que estão lá dentro. E todo navio tem uma maneira de ser, que é reflexo das pessoas que estão ali dentro".

Sempre ouvindo os mais experientes, Miranda incorporava ainda mais à conduta os princípios que norteiam a Marinha: disciplina e respeito à hierarquia.

"A gente costuma falar em disciplina e hierarquia e, às vezes, as pessoas fora das Forças Armadas não entendem muito bem. Acredito que seja importante fora também. Sem disciplina a gente não consegue nada, mesmo no mundo civil. A gente aprende isso desde muito cedo. A respeitar a capacidade profissional, respeitar as pessoas que estão na nossa frente que se formaram antes e aprender sempre com os mais velhos".

O capitão Miranda preparou-se ao longo de sua carreira fazendo cursos dentro e fora do país. Ele recorda de um, realizado nos Estados Unidos de "Política e Estratégia Marítima". Um curso preparatório para o alto escalão da Marinha. "Esse curso dá uma visão macro da Marinha. Como são tomadas as grandes decisões de defesa, por que se tomam. Nesse curso a gente aprende a enxergar a coisa num horizonte um pouco maior do que a gente enxerga do passadiço".

Aos 49 anos, há dois meses enfrenta uma nova etapa na vida militar comandando a Capitania dos Portos do Estado de São Paulo. Mudou-se para Santos, mas garante que já se adaptou à nova rotina e está feliz por estar em contato com a sociedade civil.

"A experiência na Capitania é muito importante. A parte de segurança do tráfego aquaviário, segurança da vida humana no mar. A gente tem a oportunidade de relacionar-se com a sociedade, coisa que não dá para fazer quando está embarcado. Acho importante a gente ter a visão do outro lado. Apesar de eu amar o mar, é importante conhecer outros setores da Marinha".

Pelo visto já está imprimindo a sua filosofia de trabalho, ou seja, a de ouvir o que as pessoas a sua volta têm a dizer. "Antes de tomar uma decisão eu sempre ouço. Responsabilidade você não delega nunca, mas autoridade sim".

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