Sábado, 20 Abril 2024

Nelson Antunes Mattos passou mais de cinco décadas de sua vida trabalhando no cais santista e atuando no meio sindical. Em 1950, começou a exercer a função de conferente de carga e descarga. Após cinco anos tornou-se presidente do sindicato da classe na região. Completou uma gestão de dois anos, de 1955 a 1956. Voltou à presidência do Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga de Santos em 1965 e cumpriu mais seis mandatos, saindo no ano de 1982.

Incansável, foi mais uma vez presidente em 2000, após ser vereador por Santos em seis oportunidades, e totalizou um total de oito gestões à frente da entidade, um recorde abslouto. Com 80 anos completados, segue ativo no sindicato, sendo o atual vice-presidente. Está sempre transitando pelos corredores da sede, buscando o melhor pela categoria e conversando com os velhos amigos.

Mattos conta que o conferente de carga e descarga é uma profissão imprescinídvel para a movimentação portuária desde os tempos mais antigos porque não existe possibilidade da carga entrar ou sair de bordo sem ser devidamente conferida pelos responsáveis. A categoria presta serviço aos operadores portuários, companhias de seguro, armadores e a todo o círculo
comercial, seja ele importador ou exportador.

Como conferente, Mattos lembra que trabalhou a maior parte do tempo na cabotagem (transporte de mercadorias de porto brasileiro para porto brasileiro). "A cabotagem exigia muita mão-de-obra e muito trabalho. Para se ter uma idéia, compreendia do armazém 1 ao armazém 10 do Porto de Santos e o cais, na época, só ia até o armazém 27".

Antes de atuar como conferente, Mattos trabalhou em escritórios de contabilidade e de agências de navegação. No entanto, depois que chegou ao cais santista, só saiu para dividir tempo com a luta sindical dos trabalhadores. "O presidente do sindicato é afastado da produção para dar assistência total ao sindicato". Quando optou de vez pelo meio político, Mattos pouco pôde exercer o trabalho de conferência.

Além de vereador, Mattos foi também um dos fundadores do Fórum Sindical de Debates, em 1956, durante sua primeira gestão no Sindicato dos Conferentes. "E ainda fui um dos fundadores da Federação Nacional Portuária. Digo isso com muito orgulho". A Federação agregava todas as categorias de trabalhadores do
porto, exceto a estiva, qu possuía federação própria. "Esse órgão tinha grande importância, pois reunia as entidades sindicais de cúpula e os acordos trabalhistas eram feitos nacionalmente, abrangendo as mais diversas profissões relacionadas ao porto".

Segurança
Embora ressalte que a atividade portuária é muito arriscada, estando o trabalhador da área sempre sujeito a acidentes e doenças, Mattos exprime grande preocupação com a questão da segurança. "Não havia segurança para o conferente trabalhar naquela época, como não há até hoje. Assisti desastres nos quais morreram vários trabalhadores portuários". Ele disse que também não é incomum a lingada - grande quantidade de carga amarrada para ser transportada para a embarcação - causar acidentes fatais ao cair em cima dos trabalhadores.

O atual vice-presidente do Sindicato dos Conferentes acrescenta que na década de 90 aconteceram dois acidentes que vitimaram trabalhadores da categoria. Ele acredita que a pressa da produção faz com que os trabalhadores corram e não tenham a cautela necessário. "Esse é um fator fundamental, é preciso tomar cuidado enquanto se exerce a atividade. Além disso, falta segurança nos navios. E ainda que tudo isso seja resolvido,
acontecerão fatalidades. Todas as normas de segurança estão sujeitas ao comportamento humano, que é imprevisível".

Para evitar tragédias, Mattos diz que o conferente trabalha no local que seja o mais seguro para realizar sua produção. Pode ser em terra, nas instalações portuárias ou a bordo - no porão ou no convés dos navios. "O que determina essa escolha para maior segurança do trabalhador é a mercadoria e o tipo de embarque que será realizado".

Regulamentação
Mattos considera a regulamentação da profissão, oficializada em 1956, como o seu principal feito como líder da categoria. "Antes era regulamentada, mas precariamente. Essa ação ofereceu melhores condições para todos exercerem a profissão". Ele destaca o apoio dos amigos para concorrer, ainda tão jovem e
novo na profissão, à presidência do sindicato. Segundo Mattos, o estímulo de ser uma esperança de renovação para a classe o levou adiante.

Entre outros êxitos alcançados durante os mandatos na entidade, Mattos menciona o direito a férias e décimo-terceiro salário por parte dos trabalhadores, fundo de garantia e pagamento de produção. "Mesmo com a Revolução de 64 tirando os direitos dos trabalhadores, batalhamos e conseguimos novamente".

Mattos acredita que na atualidade todos os sindicatos têm que ser reformulados, procurando se adaptar ao panorama mundial. "Cabe aos diretores, categoria na qual me incluo, estabelecer linhas de respeito, disciplina, honestidade e dedicação. Devem agir como se a sede sindical fosse um templo religioso ou um segundo lar porque da atuação de nós dependem milhões de famílias". A preocupação do vice-presidente reside no fato dos sindicatos serem conhecidos como locais de bagunça e disporem de pouca força atualmente.

Polêmica
De acordo com Mattos, a relação entre os conferentes é pacífica. No entanto, há uma divisão no setor que não agrdada nada ao vice-presidente. Além dos conferentes de carga e descarga, cujo sindicato tem sede na Rua João Pessoa, 296, existe a categoria dos conferentes de capatazia no cais santista. Eles têm sindicatos diferentes e existem discordâncias entre as cúpulas. "Estou tentando conciliar as duas partes, abrindo as portas para que se integrem ao nosso sindicato". Ele afirma que todos deveriam se unir para ter mais força. "Estou tentando agregar. Então, se eles não entram em acordo é porque não querem".

O vice-presidente diz que busca facilitar a relação, mas o "outro lado" nem sempre parece disposto a isso. Mattos conta que os conferentes de capatazia surgiram como mão-de-obra mais barata para efetuar o mesmo trabalho de carga e descarga para os empregadores que não queriam pagar o valor estipulado pelos conferentes de carga e descarga.

Lazer
Como não é possível viver somente de cais e de sindicatos, Mattos possui vários tipos de lazer, em geral, relacionados com a profissão que exerce. "Gosto de ler, leio bastante, mas não tanto quanto o necessário. Leio jornais e livros de não-ficção. Prefiro a realidade. Gosto, em especial da área científica". Ele conta que também acompanha o noticiário do setor e assiste programas
científicos na televisão.

Na juventude, Mattos foi jogador juvenil da Portuguesa Santista. Até hoje tem o futebol como seu esporte predileto. É sócio da Briosa e do Santos Futebol Clube e acompanha as equipes nos campeonatos que disputam. No porto, participou de amistosos e pequenos torneios de futebol entre os conferentes de carga e descarga. "Nós jogávamos entre turmas. Certa vez integrei a Turma 7 e nosso time foi campeão. Na final ganhamos de 2 a 1 e eu marquei um dos gols. O outro foi marcado pelo Paiva, que foi centroavante profissional de destaque na Portuguesa Santista".

Para o futuro
O Porto de Santos passa por evoluções técnicas e desenvolvimento tecnológico que, a cada ano, ficam mais intensos. Entretanto, para efeito de mão-de-obra, Mattos acredita que a situação já esteve melhor para os trabalhadores. "Até o poder aquisitivo caiu".

Para Mattos, o porto responsável pela movimentação de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) nacional tem sido discriminado ao longo dos últimos anos. "Outros portos recebem mais recursos governamentais do que o Porto de Santos, como é o caso de Sepetiba, terminal recente do Rio de Janeiro".

Ele diz ser imprescindível uma política de desenvolvimento com melhor distribuição de renda para terminais, empresas e mão-de-obra relacionadas ao porto. "Tendo em vista o mercado internacional no qual a China e outros países asiáticos impõem seus serviços com mais produtividade e menos custo, o futuro do Porto de Santos é incerto".

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