Sexta, 13 Dezembro 2024

Como foi detalhado na última semana, o serviço de batimetria identifica a profundidade marítima dos berços de atracação de navios e auxilia o planejamento da dragagem (veja a matéria).

 

Realizar a verificação da profundidade é uma tarefa de grande complexidade. Por isso, a reportagem do PortoGente foi à campo e demonstra, com mais informações, como é feita a pesquisa e a medição no cais santista.

 

Nos dias em que a variação climática não apresenta chuvas nem fortes ventos na região, Itamar Ângelo Albino prepara uma pequena lancha e sai pelas águas do Porto de Santos em direção às áreas de atracação. São nessas áreas que as embarcações fazem suas operações.

 

Itamar conta que a medição da maré é um dos principais cuidados que se tem que tomar para que a medição da profundidade gere resultados corretos. É necessário saber a altura da maré no instante em que a medição está sendo efetuada. Para isso, Itamar conta com a ajuda de um marégrafo que registra a variação da maré 24 por horas por dia e fica instalado na margem direita do Porto.

 

No dia após a medição, ele confere a influência da maré no horário em que realizou o serviço de batimetria e desconta do valor bruto. Somente com essa subtração poderá ser constatada a profundidade real da área que foi verificada.

 

Vale ressaltar que a maré decorre da interação entre a lua e o sol com os oceanos. Um componente que altera diretamente na variação da maré é a interação com o fundo dos oceanos, recifes e corais. Tais componentes modificam o perfil da maré na região em questão.

 

Preparação dos equipamentos

 

Antes mesmo de ir a campo, a batimetria exige um cuidado especial que leva bastante tempo. Trata-se da preparação dos equipamentos. Para realizar o serviço, é preciso utilizar aparelhos singulares e sofisticados.

 

A sonda digital que registra a profundidade marítima aponta, através de processo de queima em um papel especial, a medição por meio de gráficos.

 

A colocação do papel no ecobatímetro é praticamente uma arte. Tudo tem que sair corretamente para que a medição seja precisa. Após o preparo inicial, conecta-se o transdutor – aparelho que recebe sinais do fundo do oceano através de ecos – à sonda por meio de cabos.

 

O transdutor é preso na lancha e submerso a aproximadamente 50 centímetros. Fixado de modo firme, envia os dados para a sonda que ‘queima’ no papel os gráficos que posteriormente serão analisados e se tornarão dados fundamentais para o planejamento e a realização da dragagem.

 

Esse mesmo processo é repetido em todas as áreas que necessitam ter a profundidade verificada. No trabalho acompanhado pela reportagem do PortoGente, Itamar e seu ajudante, Rafael, fizeram a medição na área do armazém 35, correspondente à Libra Terminais.

 

No entanto, engana-se quem acha que a operação é realizada com apenas uma passagem pelo local. Como o fundo do oceano tem muitos buracos e sofre bastante com o assoreamento (veja aqui), a profundidade varia constantemente, às vezes em questão de metros. Dessa forma, é essencial identificar a profundidade em diversos pontos do berço de atracação, desde bem próximo ao cais, até o meio do canal.

 

A medição é realizada em movimento, com o transdutor recebendo os sinais de forma ininterrupta. A lancha percorre toda a área, em velocidade baixa, próxima ao cais e após chegar ao destino final, faz o contorno e retorna, um pouco mais distante do berço de atracação, verificando novamente a profundidade.

 

O trajeto é realizado inúmeras vezes, até chegar próximo ao centro do canal. Itamar conta que é necessário saber a profundidade até cerca de 50 ou 60 metros do cais. “Essa é a área que realmente influi na atracação dos navios”. O gráfico, em geral, aponta a medição a 2, 5, 10, 20, 30, 40 e 50 metros dos píeres.

 

Assista a um pequeno vídeo (12 segundos) que demonstra a velocidade e o trajeto da lancha e a sonda digital em ação clicando aqui.

 

Aferição

 

Para saber se o equipamento está funcionando de forma correta e registrando a profundidade sem erros, é efetuada a aferição manual. Para isso, Itamar utiliza uma extensa trena e uma tela de aferição redonda.

 

A tela é amarrada na trena e colocada no fundo do oceano, no local onde o transdutor registra a profundidade. Assim, é possível checar se a medida que a trena está marcando bate com os valores indicados pela sonda. O processo é realizado no mesmo local por diversas vezes.

 

A trena é puxada de metro em metro. Desse modo, a tela de aferição é levantada até a lancha registrando unidades métricas no papel. Caso a sonda aponte os valores corretos, constata-se que a medição da profundidade está resultando em valores reais.

 

Pós-trabalho de campo

 

A medição da profundidade marítima é periódica, feita de acordo com a necessidade de cada área. Porém, o trabalho de Itamar não acaba após encostar a lancha e desmontar os equipamentos.

 

Em seu escritório, na Codesp, ele faz todo o mapeamento da profundidade no cais santista. Para isso, ele utiliza um levantamento topográfico disponibilizado pela Autoridade Portuária. Essa planta também é atualizada periodicamente. Com ela em mãos, Itamar pode saber a cota de profundidade máxima de cada berço de atracação e compará-las com a profundidade no dia em que realizou a batimetria.

 

Os dados são essenciais para o planejamento da dragagem. Caso os resultados obtidos pela batimetria sejam inferiores às cotas máximas de uma área, a realização da dragagem mostra-se necessária para que o Porto de Santos não deixe de receber embarcações de grande porte.

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