Domingo, 24 Novembro 2024

* por Milton Lourenço

Não é de hoje que a falta de berços para operações de granéis líquidos no Porto de Santos provoca uma longa espera de navios na Barra. Pelo menos 30% das embarcações que têm como destino o Porto de Santos aguardam mais de 72 horas para atracar, o que ocasiona perdas incalculáveis não só para as empresas envolvidas nas operações de embarque e desembarque como para outras que acabam sofrendo as consequências desse estrangulamento.

Para eliminar boa parte desse gargalo, tem sido aventada a possibilidade da construção de um novo píer na região da Alemoa. Sabendo que, se depender da agilidade dos órgãos governamentais nada sairá do papel ou demorará muitos anos, a Associação Brasileira de Terminais de Líquidos (ABTL) adiantou-se e decidiu bancar com recursos de empresas que lhe são filiadas (Stolthaven, Ultracargo, Vopak e Granel Química) um estudo de viabilidade técnica e econômica para a construção desse píer.

Esse estudo, que em breve será doado à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), prevê um aumento de 50% na capacidade dos terminais de líquidos da Alemoa para receber navios. Hoje, há quatro berços no local, mas, com o novo píer, passarão a seis.       

Na verdade, desde o final da década de 1980, não se faz nenhuma obra de infraestrutura de berços para granéis líquidos no Porto de Santos. Mas, nesse espaço de tempo, a demanda cresceu significativamente, o que tem contribuído para o estreitamento do gargalo. Segundo estudo de 2009, encomendado pela Codesp, até 2024, haverá um aumento de 150% na movimentação de granéis líquidos. Obviamente, esse crescimento só será possível se houver a ampliação dos berços de atracação.

A atuação da ABTL foi providencial porque, ao contrário do poder público, a iniciativa privada não precisa realizar licitações para fazer obras ou encomendar estudos ambientais. Com isso, evitou-se uma perda de tempo considerável que, fatalmente, ocorreria se a tarefa ficasse nas mãos do poder público, já que, normalmente, licitações demoram de seis meses a um ano para serem concluídas. E, assim mesmo, quando outras partes interessadas não ingressam com ações na Justiça.

Superada essa etapa, caberá à Codesp pedir ao governo federal a liberação de verba para a obra, que, aliás, já está prevista na segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2).

Ainda que a maior parte dos terminais de granéis líquidos do complexo portuário santista esteja na região da Alemoa, é de lembrar que, na outra margem do canal do estuário, na Ilha Barnabé, há em construção um novo píer pela Agea/Copape, que contribuirá também para a ampliação da infraestrutura destinada à recepção de navios de carga líquida. Com isso, espera-se que seja dado um passo adiante na questão da fluidez do trânsito de navios no Porto.

Mas não é só. Na Alemoa, há também a questão do gargalo no sistema viário. Diariamente, a região é estrangulada pelo excesso de caminhões. Em seus acessos e vias internas, a velocidade média é baixíssima. Há períodos em que tudo fica parado. Sem que esse problema seja resolvido, as empresas estabelecidas na região são obrigadas a pensar duas vezes antes de colocar em execução os seus planos de expansão. Tudo porque o poder público nunca trabalha na velocidade que a iniciativa privada necessita.   

(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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