Luiz Alberto Costa Franco, 63, é portuário aposentado da Companhia Docas de Santos (Codesp). Santista, casado, pai de quatro filhos, este engenheiro civil especializado em Vias de Comunicações de Transportes dedicou 28 anos de sua carreira ao porto de Santos. Com quase três décadas de experiência e conhecimento, este diletante estudioso dos modelos de gestões portuárias, afirma que o porto necessita de uma “administração profissionalizada desvinculada de interesses políticos”.
Em 1968, foi contratado como engenheiro civil para trabalhar no Departamento de Operações da Divisão de Tráfego, na Companhia Docas de Santos, extinta CDS. Sua especialização englobava, na época, os modais de transporte rodoviário, ferroviário e marítimo. Já em 1970, foi admitido num Consórcio Nacional de Engenheiros e Consultores na área de Vias de Comunicações de Transportes, retornando ao porto de Santos, em 1971, de onde saiu somente após aposentar-se, 1998. Luiz Alberto foi diretor de Engenharia da companhia, de 1995 a 1997.
Ao longo da segunda metade do século XX, muitas mudanças ocorreram na área portuária como a adoção dos contêineres para transportar a carga, o avanço tecnológico e a drástica redução de mão-de-obra no porto. Para acompanhar a modernização portuária, a Associação do Pessoal Técnico e Administrativo da Codesp (ATAC) entendeu que era preciso reestruturar a empresa, segundo Luiz Alberto. Com isso, em 1989, a entidade elaborou uma proposta de um novo modelo de gestão portuária. Para isso foi feito um levantamento do histórico do porto de Santos, suas vocações naturais para atender a demanda do comércio marítimo, infra-estrutura, problemas, funcionários e seu gerenciamento, levando-se em conta os fatores administrativo e financeiro da Codesp. Luiz Alberto participou da confecção desse documento. No entanto, o modelo não vingou.
Luiz Alberto analisa que o porto de Santos tem vocação para o comércio marítimo, pois é favorecido pela região. Explica que a facilidade de acesso rodoviário e ferroviário do porto para o interior do país o tornou ideal para a movimentação de carga, resultando em um “forte apelo econômico não só para a cidade como para o estado e o país, desde o fim do século XIX”. Sua análise é baseada no estudo do Professor Mendes da Rocha, sobre os portos brasileiros, de 1947. “Santos sempre teve vantagens em relação aos demais portos do país: a melhor situação de chegada por via marítima (condições climáticas e de marés favoráveis), fundo de “boa tensa” (o solo favorece a fixação das âncoras dos navios), profundidades adequadas (calado). Contudo, ressalva que o quadro hoje é diferente, pois a falta de dragagem impede a vinda de naviosde grande porte que exigem maior profundidade do canal.
Para ele, a Companhia Docas tornar-se estatal era uma necessidade. Porém, observa que o atual modelo de gestão portuária, que consta da Lei 8.630/93, ainda não é o ideal. “O grande problema do porto de Santos, hoje, é a falta de continuidade na gestão administrativa. É preciso ter uma autoridade portuária profissionalizada, com interesses voltados para o porto. A administração não poderia estar vinculada a indicações políticas”, defende.
“A Codesp deveria ter um conselho de administração único, ou seja, Conselho de Autoridade Portuária (CAP) e Conselho de Administração da Codesp (CONSAD) ser um único colegiado. Esse conselho é que elegeria os diretores da administração do porto”, recomenda. Luiz Alberto salienta que a diretoria executiva da companhia seria efetivamente o órgão executor dos projetos e propostas emanadas pelo conselho “CAP/CONSAD”, cuja execução seria avaliada pelo próprio conselho. Desse modo, explica que os diretores seriam mantidos se seus desempenhos fossem aprovados.
Porto-Cidade
Para Luiz Alberto, o porto e a cidade estão interligados. “A cidade se desenvolve por causa do porto e vice-versa”. Destaca que o porto abre portas para o mercado de trabalho que exige mão de obra qualificada e, que Santos, por ser uma cidade acadêmica, considerando suas várias instituições de Ensino Superior, tem condições de produzir profissionais preparados para atender o mercado internacional. “O comércio internacional é extremamente competitivo e requer espírito empreendedor e técnico em grande escala que poderia, e, na verdade, deve ser suprido pela população santista”.
Turismo e negócios
“O porto está diretamente envolvido também com o turismo. Só que o turismo marítimo não pode conflitar com a operação portuária, mas ambos têm grande vocação como atrativos de turismo tanto de lazer quando comercial”, conclui.