A notícia de que o Governo Federal está investindo, por meio do PAC 2, R$ 46 bilhões em 4,6 mil quilômetros de ferrovias até 2014, foi repercutida pelo Portogente com dois especialistas na área, o engenheiro Paulo Ferraz e a ex-diretora do Departamento de Transporte Rodoviário do Rio de Janeiro e do Ministério dos Transportes, Ceci Juruá.
Ferraz avalia que o valor anunciado pelo governo daria para construir 15 mil quilômetros de ferrovias ao custo médio anunciado pelo Governo nas obras ferroviárias do PAC. “Mas esse número aparentemente grande daria só para recompor a malha em operação na década anterior à privatização, ou seja, substituir o que foi desativado pelas concessionárias a partir de 1996”.
Ceci Juruá também diz que o montante de R$ 46 bilhões parece insuficiente para as necessidades de ampliação do transporte ferroviário, tanto de cargas como de passageiros, no Brasil. “Precisamos de uma malha ferroviária de pelo menos 100 mil quilômetros cobrindo a maior parte do território nacional e integrando as capitais dos principais estados, bem como facilitando a integração de nossa economia com os outros países da América do Sul”.
Paulo Ferraz é crítico severo da privatização do setor, que reduziu a participação do modal ferroviário na matriz de transportes. “Engatamos a “marcha ré” nos trens motivo de vermos cada vez mais caminhões nas estradas. E caminhões cada vez maiores pra atender a demanda. Já tem treminhão de nove eixos que mais parecem um trem sobre rodas”.
Paulo Ferraz critica abandono de ferrovias e aumento dos caminhões nas estradas, até com o chamado "treminhão".
Juruá também critica as concessões ferroviárias, para quem o investimento privado deve ser direcionado à indústria de material ferroviário, inclusive vagões e locomotivas, e a atividades correlatas tais como armazenagem e sistemas de alimentação das ferrovias. “A implantação da malha e a operação do sistema ferroviário devem ficar sob a responsabilidade do Estado e sob ampla fiscalização dos grupos de usuários, a fim de preservar o controle público sobre o espaço econômico e evitar sua monopolização pelos trustes e conglomerados internacionais”.
Nos dois séculos de capitalismo industrial, ensina Ceci Juruá, a iniciativa privada faz sempre o mesmo, busca lucros, gordos lucros, a qualquer preço. “Quando se trata de empresa estrangeira, não raro o objetivo é a pilhagem de nossos recursos naturais, bons exemplos são o ouro, as madeiras e os minérios. Ela não tem, e não pode ter por ser estrangeira, preocupações sociais nem objetivos ligados à emancipação econômica e cultural da nação brasileira”.
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