Sábado, 23 Novembro 2024


Foto: Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Reportagem do Portogente, "Porto de Porto Alegre está na UTI, diz portuário", motivou o engenheiro Hermes Vargas, que mantém o Blog Hidrovias Interiores, a escrever um artigo destacando os pontos críticos da situação do porto da capital gaúcha. Pela importância do debate, Portogente transcreve, a seguir, o texto do nosso internauta Hermes Vargas:

NOTAS DO EDITOR

1 - É verdade que o porto fluvial da Capital está virtualmente desativado, considerando-se a movimentação anual de cargas, inferior a um milhão de toneladas anuais, e a extensão total do Cais Navegantes (2.679 metros) e as instalações e equipamentos existentes nesse trecho portuário. Os cais Mauá e Marcílio Dias não devem ser considerados na análise do desempenho do Porto de Porto Alegre - um porque é objeto de revitalização portuária, e o outro por abrigar outras atividades. No ano passado, foram movimentadas 959.456 toneladas de carga no Cais Navegantes, o que representa uma taxa de movimentação de 358,14 toneladas por metro de cais;

2 - O Terminal Bianchini, terminal de uso privativo (TUP) localizado fora da área do porto da Capital, na foz do Rio dos Sinos (Canoas), movimentou 623.213 toneladas de carga em 2010, num cais que possui 205 metros de extensão, o que representa uma taxa de movimentação de 3.040 toneladas por metro de cais. É um desempenho 8,5 vezes (750 %) maior do que o porto da Capital, e trabalha apenas com embarcações da navegação interior - calados de até 4 metros (13 pés). Isso mostra que o desempenho do porto fluvial da Capital é pífio, praticamente de carga residual no longo curso;

3 - Mas as causas para tal decadência não residem na falta de investimentos governamentais, mas sim na mudança de escala ocorrida na economia mundial na década de 70, com reflexos no perfil da frota mercante, cujas embarcações tornaram-se maiores, a exigirem maiores calados - transporte de carga a granel, e no perfil da carga geral (unitização, contêineres). Os navios graneleiros de cabotagem, modalidade de navegação que praticamente desapareceu, exigem calados de 10 metros (33 pés), no mínimo; e os navios de longo curso demandam calados ainda maiores - 15 metros, no mínimo (50 pés). Por outro lado, nossas hidrovias são constituídas por águas rasas, para calados de até 5,18 metros (17 pés), e não existe viabilidade técnica, nem econômica, e muito menos ambiental, para qualquer aprofundamento que atenda esse tipo de demanda (cabotagem e longo curso);

4 - Ao contrário do que se imagina, os governos anteriores fizeram investimentos no porto da Capital - reforço estrutural do Cais Navegantes, implantação de linha férrea para guindastes, aquisição de guindastes (usados), instalação de defensas, obras para o sistema ISPS Code (complexo de segurança para portos de tráfego internacional), moderno sistema de balanças, e assim por diante. Ocorre que tais investimentos foram completamente equivocados, na medida que foram feitos para atender as navegações de cabotagem e de longo curso, modalidades que o Porto de Porto Alegre não tem condições de atender devido limitações dos canais de acesso (águas rasas). Houve desperdício de recursos públicos, pois tais gastos não têm qualquer chance de retorno. Foi um erro estratégico, porque portos fluviais (águas rasas), servidos por hidrovias interiores, devem estar voltados à navegação interior (embarcações de menor calado).

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