O atual crescimento econômico do Brasil coloca o sistema rodoviário à beira de um colapso e impõe planejar estrategicamente a infraestrutura de transporte com a retomada dos modais aquaviário e ferroviário. A avaliação é do deputado estadual Raul Carrion, do PCdoB do Rio Grande do Sul, que também coordena a frente estadual em defesa das ferrovias no Sul. Ele conversou com o Portogente após o seminário “Desenvolvimento e Ferrovias na Região Sul – Diagnóstico e estratégias das Ferrovias no Sul do País”, realizado na Assembleia Legislativa gaúcha, em Porto Alegre, no dia 26 último.
Carrion faz um breve “inventário” das ferrovias do Rio Grande do Sul contabilizando a perda de malha ferroviária desde que a América Latina Logística (ALL) assumiu a concessão do serviço no estado.
“Temos hoje em torno de três mil quilômetros de ferrovias que foram entregues à ALL, desses, cerca de mil quilômetros estão totalmente desativados, até os trilhos foram levantados. Hoje a malha se concentra em dois mil quilômetros com um transporte intermitente, no período da safra, e assim por diante. A malha já era muito deficiente. Uma malha de baixa velocidade, portanto com dificuldade de competir até com os outros modais”.
O parlamentar comunista é saudoso ao lembrar que, em tempos passados, quase 40% da carga, no Rio Grande do Sul, eram transportadas pelas hidrovias e outra boa parte pelas ferrovias, mas que hoje 80% das cargas estão nas estradas. “Isso faz com que a logística de transporte seja extremamente elevada, muito superior aos países emergentes, muito mais ainda em relação aos países desenvolvidos com altos custos econômicos, energéticos, ambientais, vidas que se perdem e assim por diante”.
Para o deputado do PCdoB, a questão das ferrovias, no Sul e no País, não passa só por compreender ou explicar a importância delas, passa também por enfrentar poderosos interesses. “Foi dito que a ALL tem grandes interesses também no transporte rodoviário [no Rio Grande do Sul]. Então, imaginemos uma concessionária que grande parte dos seus lucros vem do rodoviário quando vai efetivamente interessar-se por ampliar as ferrovias”, questiona.
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