Mais de 100 mil caminhões circulam pelas estradas de todo o País transportando produtos perigosos, dia e noite. O número foi divulgado pela Federação dos Transportadores de Carga do Estado de São Paulo e causa, com certeza, muita apreensão. E se levarmos em conta os dados de pesquisa divulgada pela Associação Nacional de Transporte de Carga e Logística de que apenas 11% das estradas brasileiras estão totalmente asfaltadas e prontas para todo tipo de carga, essa apreensão aumenta. Afinal, quais as medidas de segurança adotadas para o transporte de mercadorias perigosas nos setores portuário e rodoviário brasileiros?
E como a questão é tratada no Porto de Santos, o maior da América Latina e apontado como principal rota de escoamento de quase todos os tipos de mercadoria, inclusive as químicas? Não se trata de negativismo ou pessimismo, mas de fatos. Todo cuidado é pouco. Por exemplo, o porto santista abriga o terminal da empresa Dow Química, instalado há 34 anos em Guarujá e, até hoje, maior ponto de descarga de vários tipos de produtos.
É preciso ressaltar que nenhum acidente grave foi registrado, até agora, com a manipulação de cargas perigosas na Dow Química. Mas isso não quer dizer que os riscos não existam. Para se ter uma idéia da periculosidade da situação, um dos produtos que passam pela Baixada Santista inspira muitos e rigorosos cuidados para se evitar uma tragédia. É o óxido de etileno, de nome até simples, mas que não condiz com a complexidade de se transportar e armazenar esta carga, um item venenoso usado como matéria-prima para a elaboração de espumas, as mesmas utilizadas para fabricação do colchão usado em qualquer casa.
Sua fórmula química é o C2 H4 O, o que o classifica como um gás que precisa, necessariamente, ser descarregado ou embarcado de forma direta, sem possibilidade alguma de armazenagem dentro da área do porto organizado. Por isso mesmo, o engenheiro químico de segurança Morvan Santana Anderaós explica o fato do motorista que conduz o veículo com óxido de etileno ser treinado anteriormente.
“Aqui na região, nunca foi registrado nenhum acidente com esse produto, mas é sempre necessário manter o estado de alerta. O risco de que alguma tragédia seja consumada com o vazamento do produto é zero, acredito que alguma coisa só saia do eixo se um meteoro cair sobre a Baixada Santista. Para confirmar o que eu disse, basta ver o tempo que a Dow Química está em Guarujá, 34 anos, e a quantidade de tragédias com o óxido de etileno, nenhuma”.
A reportagem do PortoGente apurou que o produto vem em seu estado bruto da Grande São Paulo, transportado de caminhão até a cidade de Guarujá, onde fica o terminal da Dow Química. Por isso, entramos em contato com a empresa Oxiteno, apontada como uma das fornecedoras da matéria-prima para a empresa portuária. Até o fechamento desta matéria, nenhuma resposta tinha sido enviada, seja por e-mail ou por contato telefônico.
De acordo com a resolução da Codesp de nº 44.2007, de 14 de maio de 2007, as mercadorias perigosas só poderão ser movimentadas no Porto de Santos se todas as normas para embarque ou desembarque de cargas forem feitas respeitando-se a legislação, que não permite a permanência ou armazenamento do produto venenoso na área do porto organizado.
E para completar as normas da Codesp, todos os trabalhadores que manusearem quaisquer tipos de mercadorias perigosas deverão usar o Equipamento de Proteção Individual (EPI) apropriado, cabendo à Guarda Portuária a fiscalização da documentação do transporte desses produtos. Na próxima semana, vamos mostrar quais os cuidados tomados para o transporte do óxido de etileno para o porto santista, com as respostas prometidas pela própria Dow Química e também pela Codesp.