Alcides Antônio Maziero tem 55 anos de idade, dos quais 37 dedicados à profissão de caminhoneiro. Casado e pai de “uma linda filha”, segundo suas próprias palavras, este morador de Ribeirão Pires (SP) representa todos os profissionais do volante no Dia do Motorista, comemorado todo dia 25 de julho, mesma data do padroeiro da categoria, São Cristóvão.
Mas o amigo leitor deve estar se perguntando: qual a diferença entre o caminhoneiro Alcides e seus colegas? E a resposta é simples: todas, pois cada profissional tem uma história curiosa e fatos que elucidam a luta diária dessas pessoas pelas cidades, rodovias e portos espalhados por todo o Brasil. E a cada dia essa disputa pelo espaço nas estradas e ruas torna-se inglória.
Quem diz isso é o próprio Alcides, que continua dirigindo seu caminhão por “ter óleo diesel no sangue” e precisar do dinheiro no final do mês para ajudar a sustentar a casa. Mas a disposição para enfrentar filas de até dez horas para descarregar mercadorias no Porto de Santos, por exemplo, diminui a cada dia.
“Ser caminhoneiro no Brasil não é uma tarefa fácil, pois os prazos para o transporte de cargas diminuem a cada dia, sendo que a infra-estrutura do País não acompanha esse ritmo maluco de crescimento. Por isso, vemos vários acidentes nas estradas e dizem que a culpa é sempre do caminhoneiro. É errado pensar assim”.
Em meio ao desabafo, Alcides confessa nunca ter imaginado que conseguiria manter uma família por tanto tempo atuando atrás do volante. Quando chegou a dirigir, em 1970, sua preocupação era ganhar experiência dinheiro fazendo o que gostava. Dirigir sempre foi um prazer para nosso homenageado, tanto que sua lua-de-mel, em 1980...
“Peguei minha esposa e corremos pelo Sul, indo de caminhão até Porto Alegre. Nós adoramos participar dessa aventura, pois depois desse período, sabíamos que a família seria a mais prejudicada, afinal a vida de caminhoneiro é longe da esposa e dos filhos. Em uma outra viagem para o Sul, vivi um dos momentos mais lindos de minha vida, quando vi de perto a Cordilheira dos Andes. Inesquecível”.
As viagens mais longas de Alcides foram duas: para Belém (PA), ao Norte, e Buenos Aires, ao Sul. Ele conta que hoje não teria mais pique para encarar longas distâncias dirigindo um caminhão, afinal as viagens de antigamente davam margem para o motorista aliar trabalho e diversão. Hoje, entretanto, os compromissos profissionais impedem qualquer coisa senão o cumprimento das obrigações.
Por causa dessa realidade, o caminhoneiro se diz preocupado com o futuro da categoria, afinal ele já viu os novos motoristas de caminhão “usarem coisas erradas” para rodar 24 horas seguidas e não atrasar a entrega da mercadoria. Alcides admite que não deixaria um filho seu seguir a profissão, por conta do efeito colateral da carreira, que é o convívio distante “das pessoas que ama”.
E para enfrentar essa solidão, nosso homenageado escolheu um grande ídolo da música brasileira: Roberto Carlos. Com suas músicas românticas, o Rei sempre acompanhou Alcides nas viagens pelo Brasil. Foi ouvindo canções como Ciúme de Você e Negro Gato que ele superou a distância de casa e os apuros da vida de caminhoneiro. “Ele é velhinho como eu, cresci ouvindo o Rei e sou seu fã eterno”.
Números
As estimativas são de que, em todo o Brasil, cerca de 500 mil caminhoneiros trafeguem pelas estradas dia após dia. E a tendência natural aponta para o crescimento desse número. Só no Sistema Anchieta-Imigrantes, que dá acesso ao Porto de Santos, passaram em 2006 mais de 5,3 milhões de caminhões. Para se ter idéia, em 2000 esse total não ultrapassava os 3,5 milhões de veículos pesados.
Alguns caminhoneiros devotos de São Cristóvão consideram a data oficial da categoria em 25 de julho. Mas de acordo com as principais lideranças sindicais do meio, o Dia do Caminhoneiro é 30 de junho. De qualquer forma, como o dia 25 de julho é dos motoristas em geral, fica registrado os parabéns para todos.