Sábado, 23 Novembro 2024

Deisi Diel Weber, professora do curso de Comércio Exterior do Cesuca, aponta os desafios que o Brasil enfrentará neste ano com os frutos que o país colheu em 2022

O ano anterior foi marcado por muitos impactos. A guerra entre Rússia e Ucrânia, de certa forma, mudou o rumo da economia de muitos países. Para se ter uma ideia, o comércio exterior brasileiro, apesar de uma representatividade grande no cenário internacional, principalmente por seu papel no fornecimento de alimentos ao mundo, em termos percentuais é baixa ao analisar os valores movimentados, mas gigante em volume: dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que o Brasil ocupa a 25ª colocação dentre os principais exportadores mundiais e a 27ª colocação no ranking dos maiores importadores, com participações de 1,3% e 1,2%, respectivamente.

Comercioexterior

Para a Ma. Deisi Diel Weber, professora do curso de Comércio Exterior do Centro Universitário Cesuca, a estimativa para 2023 é que devido ao desaquecimento econômico global, provocado principalmente pela instabilidade mundial decorrente da pandemia de Covid-19, da guerra na Ucrânia e da política de Covid Zero da China, que impactaram toda a cadeia de fornecimento no mundo, o ano de 2023 será acompanhado de uma desaceleração no ritmo de crescimento global.

“O comércio exterior como um todo sente e continuará sentindo impactos desta recessão global. Conforme previsto pela OMC, o crescimento será de 1% do volume de comércio mundial de mercadorias para 2023”, comenta.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta para 2023 uma queda de 2,3% nas exportações em relação aos US$ 334,136 bilhões de 2022, enquanto as importações estão previstas em US$ 253.229 bilhões, queda de 7% em relação aos US$ 272.610 bilhões do ano passado, e superávit comercial de US$ 71.933 bilhões, aumento de quase 17% em relação aos US$ 61.525 bilhões de 2022, o que significa que será recorde apesar da queda.

“A corrente de comércio brasileira projeta US$ 578.391 bilhões para 2023, com queda de 4% sobre 2022, provocada, principalmente, por redução de preços de commodities. Estas previsões, se confirmadas, devem fazer com que a contribuição do comércio exterior para cálculo do PIB de 2023 seja negativa”, analisa a docente.

“Ao analisarmos os destinos das exportações do ano de 2022, houve um aumento do volume total exportado para África, América Central e Caribe, Ásia (inclusive Oriente Médio), e queda para Oceania, América do Sul, Europa, América do Norte e Oriente Médio”, afirma Deisi.

Os dados da AEB ressaltam que em 2022 a soja permaneceu como o produto líder de exportação, e que será novo recorde, cenário que deverá ser consolidado com o volume máximo projetado para 2023 de 90 milhões de toneladas. Com isso, a soja, o petróleo e minério deverão ser responsáveis por 35,7% das exportações brasileiras projetadas para 2023, praticamente estáveis em relação aos 35% apurados em 2022. Além disso, dos 15 principais produtos exportados pelo Brasil, exceto automóveis e semiacabados de ferro e aço, todos os demais são commodities.

Importante avaliar os principais parceiros comerciais brasileiros para entender algumas expectativas: “As recentes elevações das taxas de juros dos EUA e da UE devem provocar redução de suas atividades econômicas, com impacto nos demais países e nos termos de trocas; os americanos ainda tentam controlar a inflação para evitar uma recessão ainda maior, o que também afeta diretamente as exportações brasileiras, já que o país é o segundo maior parceiro comercial do Brasil”.

Como grande compradora de commodities do Brasil, a China também passa por um período de incertezas e desafios. Por isso, segundo Deisi, é fundamental entender como a economia chinesa evoluirá este ano, baseado nos problemas internos, principalmente os relacionados a suas políticas de Covid Zero, e de gestão política, mudanças no perfil demográfico, que sinalizam um menor ritmo de crescimento econômico nos próximos 20 anos, com impacto em toda demanda mundial, inclusive na brasileira.

Apesar de tudo, o Brasil como sendo um grande exportador de bens primários, acaba se beneficiando do atual preço dos commodities, mas sua dependência deste setor o torna altamente vulnerável as oscilações dos preços, e o cenário atual não confirma a continuidade da alta destes preços, pelo contrário, é esperada uma redução no valor de commodities, que já se mantiveram elevados em 2022 em virtude da instabilidade do cenário internacional.

“Entretanto, passados as primeiras semanas do ano, já é possível perceber que alguns indicadores econômicos estão sendo revistos e que o mundo possivelmente poderá lidar de forma mais rápida que o previsto frente a instabilidade global. A exemplo da crise energética na Europa que vem sendo bem conduzida, causando menores impactos que o previsto para o inverno europeu; o mercado norte-americano, apesar de índices altos de inflação e juros, ainda apresenta crescimento; por sua vez a economia Chinesa apresenta sua atividade industrial e de serviços no nível mais alto dos últimos 10 anos e com perspectivas de crescimento de 6% para esse ano. Estas especulações, se confirmadas, podem tornar o ano de 2023 economicamente melhor e com potencial de crescimento maior, principalmente por manter elevados os preços de commodities e da possibilidade de normalização das cadeias de produção. Há, assim, uma tendência de revisão de alguns números que podem tornar menos pessimistas as expectativas futuras.”

Weber finaliza dizendo que: “Em um contexto de desaceleração, o aumento das exportações terá que se dar muito mais por volume que por preço, assim será difícil contar com saldos comerciais maiores que em 2022. Para as empresas, é indicado que tenham atenção aos eventos geopolíticos globais, e se organizem para efetuar um melhor gerenciamento dos estoques, criando assim planos de contingência caso a instabilidade se perpetue.”

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