Domingo, 24 Novembro 2024

País precisa de investimentos nos próximos 15 anos para logística não entrar em colapso; perdas são imensuráveis, diz especialista

SobrecargaA logística no Brasil precisa de intervenções urgentes nos próximos 15 anos para não entrar em colapso. Mesmo com um território continental, 62% de toda carga é transportada por rodovias brasileiras, o que causa fortes impactos na economia e no meio ambiente. O País desperdiça hoje 30% de combustível com sobrecarga nas rodovias e uma frota velha de caminhões. O custo logístico nacional é de 12,5% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto nos Estados Unidos não chega a 8%.

"Temos uma situação crucial para o setor de logística. As perdas hoje já são imensuráveis em todos os sentidos, para a natureza, para o valor do produto. Se não houver planejamento e investimentos nos próximo 15 anos, o segmento vai enfrentar sérias dificuldades", afirma o especialista em logística e sócio da Pathfind, Antônio Wrobleski. Ele diz que a falta de investimentos em infraestrutura é um dos principais gargalos na logística brasileira e defende a intermodalidade como alternativa para mudar esse cenário.

O especialista lembra que quase nenhum investimento foi feito no setor ferroviário no Brasil, que é praticamente o mesmo de 100 anos atrás. O Brasil tem três vezes o tamanho da Argentina, mas o País vizinho ostenta mais quilômetros de ferrovias. A linhas férreas brasileiras somam cerca de 31 mil quilômetros, enquanto as argentinas têm 34 mil quilômetros. "Veja o absurdo dessa comparação", comenta Wrobleski.

Neste ano, 62% da carga brasileira será transportada por caminhões, 20% por ferrovias, 14% por cabotagem (aquavias), 0,3% por aerovias e 3,6% por outros sistemas. Para ser mais competitivo em logística, segundo o especialista, o ideal seria que, em 15 anos, o País pudesse reduzir a carga rodoviária a 40%, aumentar a ferroviária para 30% e a de cabotagem para 25%. "Isso depende de um plano longo de investimentos, que precisa começar agora", diz.

Frota velha
Antônio WrobleskiWrobleski afirma que o Brasil deixaria de jogar fora "minimamente, numa avaliação bem contida" 30% de combustível se tivesse uma melhor intermodalidade. De acordo com ele, contribui bastante para a piora no segmento de transporte rodoviário que a frota brasileira de caminhões é muito velha, tem em média 20 anos. "Conseguimos baixar essa média no passado, com financiamentos dedicados a caminhões, mas hoje esse número voltou a envelhecer, Já chegou a 12, 13 anos, está em 20 anos. A idade ideal para a frota de caminhões é 8 anos a no máximo 10 anos", alega.

De acordo com o especialista, o investimento em infraestrutura no Brasil deveria girar em torno de 3% a 4% do PIB, mas não ultrapassa 1%. "A China, nos áureos tempos, fazia dois dígitos de investimento em infraestrutura. A falta de investimento em infraestrutura é um fator seríssimo, uma grande barreira a ser superada para que o Brasil possa alcançar a média dos países desenvolvidos no mundo", garante.

Avanço e retrocesso
A logística brasileira precisa acompanhar o desenvolvimento dos setores da economia. O País é líder mundial de produção agropecuária, que registrou crescimento de 400% entre os 1975 e 2020, com aumento de produtividade, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com a Embrapa, a produção agrícola brasileira alimenta 10% da população mundial, cerca de 800 milhões de pessoas.

"Ao mesmo tempo em que o Brasil avança no setor agropecuário, consolidando sua liderança, não há contrapartida no setor logístico nem planejamento quanto ao limite do crescimento. Melhorias dos modais, infraestrutura, acesso ao dinheiro e automação são pontos cruciais da logística nos próximos 15 anos. Entra e sai governo e nada muda. Falta planejamento para o Brasil", diz Wrobleski.

O mapa "Logística dos Transportes no Brasil", do IBGE, mostra que o Estado de São Paulo se destaca pela distribuição espacial da logística de transportes no território brasileiro, com predominância do modal de rodovias. É o único Estado com uma infraestrutura de transportes na qual o interior está conectado à capital por uma vasta rede, incluindo rodovias duplicadas, ferrovias e a hidrovia do Tietê. Também estão em São Paulo o maior aeroporto do país, em Guarulhos, e o porto com maior movimentação de carga, em Santos.

Armazéns logísticos e automação
Mas o transporte não é o único ponto que merece atenção no setor logístico. A armazenagem e a automação precisam acompanhar a demanda. O comércio eletrônico cresceu na pandemia em torno de 26% no Brasil, segundo estudos, e continua em alta mesmo após a retomada das compras presenciais. Esse incremento, que ocorreu no mundo todo, exigiu o aperfeiçoamento dos sistemas de armazenagem.

A automação no armazenamento reduz custos gerais do negócio e erros nas entregas de produtos. De acordo com levantamento da empresa DHL, no entanto, apenas 5% dos armazéns são automáticos no Brasil, 80% ainda operam manualmente sem automação de suporte e os outros 15% utilizam transportadores, classificadores e soluções pick and place, entre outros equipamentos não necessariamente automatizados.

A estimativa é de que o mercado global de automação de armazém registre taxa de crescimento anual composto (CAGR) de 12,5% entre 2021-2026. Wrobleski aponta que cada vez mais a automação deverá fazer parte dos armazéns logísticos. "Internet das coisas, machine learning e inteligência artificial terminam ou começam dentro de armazém. A tendência de armazém logístico automatizado é muito forte para buscar a previsibilidade e a assertividade. A automação é a grande ligação entre o interno e o externo, entre o mercado e aquilo que está saindo do armazém", afirma.

O especialista lembra que o investimento em robotização é grande, o nível de retorno é longo, portanto, quanto mais bem treinadas as pessoas estiverem, mais rápido é o retorno. "Há os sorters, como os sorters falam com o TMS, como o TMS joga para o SAP, como vai para as ruas. Quanto melhor isso for compreendido, melhores os resultados", alega. Segundo ele, com as eleições, é hora de repensar o País. "Hora de menos política e mais economia, ou mais política com foco, direcionamento, pensando num Brasil melhor para as próximas décadas", aponta.

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