Antropóloga traz entrevistas e analisa a carreira, a crise do setor após a falência da Varig e como essas profissionais tiveram de se reinventar
Uma empresa que era o símbolo brasileiro dentro do universo da aviação mundial, a Varig foi do estrelato – sem trocadilhos com a estrela que simbolizava a companha – à falência. Neste triste fim, ela levou consigo sonhos, histórias e pessoas que dedicaram a vida pela aviação. Com mais força e também simbolismo que outros funcionários, as comissárias de bordo foram as mais impactadas e, sem uma oferta de empregos em sua área à disposição, viram a classe que fora tão cultuada por muitos sofrer uma verdadeira parada cardíaca. Ao analisar essas circunstâncias, entre as quais a de sua tia Claudia Alves, a doutora em Antropologia Carolina Castellitti escreveu sua tese de doutorado que foi a base para o lançamento de “Anfitriãs do Céu: Carreira, Crise e Desilusão a bordo da Varig” (Editora Telha).
“As aeromoças por muito tempo representaram um ícone da liberdade feminina. Mas essa liberdade pareceria estar cheia de armadilhas. Eu queria entender que tipo de autonomia e liberdade essas mulheres conquistaram e, ao mesmo tempo, que obstáculos tiveram que superar. ” – Carolina Castellitti, antropóloga
O livro traz recortes da sociedade em formato de depoimentos de mulheres que optaram por fugir do formato de família tradicional (para elas, mãe e esposa) para criarem seus próprios “modelos” de família e histórias de vida. As conhecidas “aeromoças” viajavam pelos 5 continentes, conheciam pessoas de diferentes nacionalidades e culturas, podiam acordar em um fuso horário e irem dormir em outro, enfim. Gozavam do requinte que seu trabalho lhes garantia. Era um sem número de oportunidades batendo à sua porta a cada jornada de trabalho.
“Anfitriãs do Céu: Carreira, Crise e Desilusão a bordo da Varig” trabalha de forma contundente em três pilares: a origem social da aeromoça e a trajetória social por elas percorrida até a escolha pela vida regada a jet lag e liberdade; a formação de carreira de uma comissária considerando-se as exigências de disciplina, hierarquia, etiqueta e refinamento que o posto exige; e, por fim, a reconstituição da reprodução social após o declínio da profissão juntamente com a companhia aérea símbolo do nosso país.
“Através de suas histórias de vida é fascinante reconhecer como as pessoas podem encontrar em certas carreiras ou profissões, por mais inusitadas que sejam, seu lugar no mundo. Ao mesmo tempo, quando a entrega é tão incondicional, o fim desse mundo representa um cataclismo, um trauma e uma grande desilusão. É necessário ter coragem para descobrir o estilo de vida que queremos ter. Mas se nenhuma descoberta se faz sozinho, o apoio dos outros é fundamental para enfrentar os obstáculos e quedas da vida. “ – Carolina Castellitti
Carolina Castellitti conduz com maestria o seu interesse na temática das carreiras femininas na direção de um enriquecimento prático e analítico sobre um drama coletivo de grande expressividade. Sua obra exemplifica a partir da carreira das comissárias de bordo o processo pelo qual as mulheres passaram – e muitas ainda passam – na reinvenção de seus papéis perante a sociedade e sempre que precisam dar grandes guinadas em suas direções.