Para homenagear e mostrar a importância do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, entrevistamos uma portuária do Porto de Vitória.
Portogente entrevistou a trabalhadora portuária Martha Cavalcanti, da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa). Ela tem 49 anos, nascida em Recife (PE), mãe de dois filhos e filha “da mulher mais mãe e mais forte”. É formada em Comunicação Social e em Direito, é advogada autônoma e dirigente do Sindicato Unificado dos Portuários do Espírito Santo (Suport-ES).
Matha Cavalcanti, portuária em Vitória: "Não há macho que nos segure." Crédito: Arquivo pessoal.
Para conhecer um pouco da vida das mulheres no mundo do trabalho no setor, pedimos para Martha falar sobre a dor e a delícia de ser uma mulher portuária, de como é conviver no meio de uma categoria predominantemente masculina, se há discriminação de cargo, salário, promoção, escuta de ideias.
Nosso objetivo é pensar sobre realidades das mulheres, pois em 8 de março o mundo inteiro comemora o Dia Internacional da Mulher, oficializado em 1975, durante a I Conferência Mundial da Mulher, da Organização das Nações Unidas (ONU), que teve como lema “Igualdade, Desenvolvimento e Paz”.
Para além de felicitações, flores, cartões e chocolates, a data é um marco na luta por direitos e pelo lugar da mulher na sociedade: na vida pública, no mundo do trabalho, nos direitos a reconhecimento, acesso à distribuição de recursos e participação política.
O 8 de março tem sua origem histórica nas lutas das mulheres trabalhadoras nas fábricas nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, em busca da igualdade de salários e condições de trabalho.
>> Quer conhecer mais a história da data? Indicamos a cartilha do Núcleo Piratininga de Comunicação, é só clicar aqui.
Mas agora convidamos as e os internautas a lerem a entrevista com a nossa portuária lá das terras capixabas.
Portogente - Martha, fale-nos um pouco da sua trajetória como menina, jovem, mulher, mãe, sua origem, formação acadêmica e atividade profissional.
Sou Martha Cavalcanti, nasci em Recife (PE), em dezembro de 1970, filha caçula de quatro irmãos (somos em três meninas e um menino), filhos da mulher mais mãe e mais forte que conheço. Tenho dois filhos de namoros complicados e pais ausentes. Hoje um tem 22 anos e o outro, 18. Os dois são a luz dos meus olhos. Sou formada em Comunicação Social e em Direito. Atualmente advogo autonomamente e sou Secretaria de Comunicação do Sindicato Unificado dos Portuários do Espírito Santo (Suport-ES).
Como e quando você entrou no Porto de Vitória? Quais as atividades que exerce?
Entrei na Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) por meio de concurso público, para o cargo de jornalista, em agosto de 2009. Trabalhei como jornalista no Porto até o ano de 2012. Depois compus uma chapa sindical e virei Secretária de Comunicação do sindicato unificado. Fomos eleitos para um segundo mandato em 2015, quando fui Secretaria do Jurídico por mais três anos. Depois nos elegemos pela terceira vez, e hoje sou secretária de comunicação novamente.
Como é trabalhar numa categoria com predominância masculina? Há algum tipo de favorecimento ou discriminação pelo fato de ser mulher? Você sente que faz a diferença no seu trabalho?
É mesmo uma categoria bem machista. Além do mais eu sou bissexual e me casei por 17 anos com uma mulher que amo até hoje. Eles não entendem muito bem isso, mas pelo menos na minha presença não se atrevem a fazer piadinhas ou a me faltar com o respeito. Acredito que já deixei de ser promovida pelo fato de ser mulher, mas a pessoa que ficou com essa promoção é um jornalista muito competente, então aceitei sem grandes dramas na época. No geral, me relaciono muito bem com eles todos. É um meio bem machista, mas, desde cedo, fui educada a não depender nem de homem nem de mulher nenhuma. Então, faço amizades com facilidade e trabalho bem com quem quer que seja, sempre respeitando e exigindo respeito. É o famoso "cada um no seu quadrado" e todos juntos na luta pelos trabalhadores e trabalhadoras! (risos)
Como portuária e também dirigente sindical, observa que suas opiniões são escutadas e encaminhadas? Como são essas relações de poder em relação ao gênero no âmbito portuário?
Sou a única diretora que faz parte da diretoria executiva do Suport-ES. No nosso sindicato há muita divergência de pensamentos e prioridades. Mas, na medida do possível, buscamos decidir tudo de forma democrática e minha opinião é respeitada sim, embora nem sempre seja maioria. Faz parte do processo. Mas, no geral, sou ouvida e, quase sempre, obtenho meus encaminhamentos sim.
Em relação à progressão na carreira, os salários são os mesmos, mulheres têm acesso a cargos de chefias e promoções? Que tipo de barreiras você observa.
No Porto de Vitória, de acordo com as avaliações, todos recebemos a progressão sim. Pelo que observo as mulheres com mais anos de carreira recebem salários e benefícios em igualdade com os homens e conseguem bons cargos também. As mais recentes, sobretudo nos cargos de nível superior, também têm oportunidade de liderança e representação. Mas é inegável que a grande maioria da chefia ainda é exercida pelos homens.
Que recado você dá - em nome da mulher portuária - para as mulheres do Brasil e do mundo nesse 8 de março?
Com toda sinceridade, acredito que as mulheres são emocionalmente mais sinceras e fortes e quando têm espírito de liderança e determinação, não há macho que nos segure! (risos). Adelante em busca da paridade e diversidade! Sempre!