Sexta, 29 Novembro 2024

Estudo realizado por pesquisadores da Embrapa Solos (RJ) e de outras instituições brasileiras revela que quase metade do fósforo (P) aplicado na agricultura em forma de fertilizante inorgânico nos últimos 50 anos continua na terra. Cálculos apontam que um total de 45,7 milhões de toneladas, ou teragramas (Tg), de fósforo foi aplicado no Brasil desde 1960, quando começou a utilização regular desse insumo. Hoje, estima-se que 22,8 Tg desse montante continue fixado no solo.

Solo Embrapa

Esse legado de fósforo na terra, que hoje é avaliado em mais de U$ 40 bilhões, pode ajudar o Brasil a se precaver contra uma possível escassez futura do nutriente ou variações no preço do insumo. Em 2008, por exemplo, o preço da rocha de fosfato aumentou 800% em um período de 18 meses.

Em 2050, serão 105 milhões de toneladas

Para avaliar esse recurso, foram examinadas as dinâmicas de fósforo em seis experimentos de longa duração (14 a 38 anos) em solos do Cerrado, onde se acredita que a maior parte da expansão e da intensificação da agricultura deve ocorrer. A estimativa é que o resíduo de fósforo em terras brasileiras possa chegar a 105 Tg em 2050.

O estudo, publicado na Nature Scientific Reports, no artigo Transitions to sustainable management of phosporus in Brazilian Agriculture (Transições para o manejo sustentável de fósforo na agricultura brasileira, tradução livre), pode ser lido no link https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5803245/, chama a atenção para uma questão importante na discussão do excesso de uso do nutriente. O fósforo aplicado sucessivamente em solos brasileiros, principalmente na produção de grãos, desde 1970, aliado a práticas conservacionistas, como o plantio direto, gerou um legado, promovendo o acúmulo de um capital natural. "Nosso solo absorveu esse fósforo. Por isso, precisamos aplicá-lo cada vez em menor quantidade na terra, reduzindo seu uso na adubação", revela Vinícius Benites, pesquisador da Embrapa Solos e um dos autores do artigo.

Controvérsias sobre o uso do fósforo
O estudo responde a diversas críticas de pesquisadores atuantes em países de agricultura de clima temperado. "Há aproximadamente dois anos, alguns cientistas de países do Hemisfério Norte começaram a questionar o que seria uma aplicação excessiva do fósforo na agricultura tropical, principalmente no Brasil", lembra Benites. "Por lá, eles consideram o fósforo como um poluente, em vez de insumo. É necessário observar que nossos solos tropicais, para produzir, têm uma demanda muito maior de fósforo do que a terra de países de clima temperado", completa.

Luís Prochnow, diretor geral do Instituto Internacional de Nutrição de Plantas no Brasil (IPNI), pondera: "Realmente existem trabalhos criticando alguns aspectos do uso de fósforo no Brasil. Tais argumentos se referem normalmente à grande quantidade que utilizamos para tornar a nossa agricultura eficiente e produtiva. Questiona-se algumas vezes se o custo [da aplicação de fósforo] não é muito elevado e se não estamos esgotando as reservas no mundo muito rapidamente".

O professor Luciano Gatiboni, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) vê algumas contradições nas críticas. "É interessante observar que as reclamações sobre o uso do fósforo na agricultura brasileira têm vindo de países nos quais foram utilizados fertilizantes fosfatados por séculos e hoje boa parte dos seus solos apresentam teores excessivos desse elemento, valores tão altos que causam poluição ambiental. Obviamente, nessas condições, a eficiência da adubação é próxima a 100%, pois há tanto fósforo armazenado no solo pelas adubações anteriores que não há fixação. Então, eles criticam o Brasil por estar fazendo o que já foi feito no passado por eles", avalia.

Prochnow também discorda da argumentação dos pesquisadores europeus: "Temos que considerar que precisamos de fósforo em quantidades elevadas para construir a fertilidade dos nossos solos, mas temos uma agricultura muito eficiente, bem mais eficaz do que a das regiões temperadas".

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