Antonio Roque Dechen, presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e da Fundação Agrisus e Membro do Conselho do Agronegócio (Cosag-Fiesp), professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP; e Ondino Cleante Bataglia, engenheiro agrônomo formado na Esalq/USP e secretário Executivo da Fundação Agrisus
Devemos considerar que a produção de alimentos é extremamente dependente do cultivo desses solos, por isso cada comunidade ou país deve preservar esse bem da natureza com todo cuidado. O país, na ordem geopolítica vigente, é a unidade responsável por essa questão, muito embora seja cada vez maior a tentativa de interferência das organizações internacionais.
Os engenheiros agrônomos são os profissionais mais intimamente relacionados com essa atividade humana, pois são, afinal, responsáveis por desenvolver tecnologias que permitam conservar e melhorar os solos onde vivemos. Nos últimos tempos houve um grande engajamento de toda a sociedade por uma conservação mais ampla do ambiente que deve ser preservado, mas nem sempre os conceitos são harmônicos, pois os chamados ambientalistas pouco se importam aparentemente com a necessidade da produção de alimentos.
A conservação e melhoria dos solos cultivados para garantir a sustentabilidade para as próximas gerações é o foco da Fundação Agrisus, que apoia a educação como forma mais ampla possível de levar ao agricultor as melhores técnicas de preservação e melhoria da fertilidade dos solos sob os aspectos da química, física e biologia.
Embora se dedique totalmente a seus objetivos, a capacidade da Fundação é limitada diante da enorme necessidade de desenvolvimento tecnológico para melhoria e conservação dos solos. O progresso conseguido no passado quando as instituições públicas tinham equipes capacitadas ainda sustenta o uso atual dos solos. Todavia o que se percebe é um esvaziamento das instituições de pesquisa, ficando mais uma vez evidente que outras instituições públicas, como os órgãos de defesa da agricultura, assumem o papel de policiar o uso dos solos pelos agricultores, enquanto a pesquisa e a extensão rural simplesmente estão deixando de ser uma prioridade nos estados brasileiros.
O cultivo de solos em áreas favoráveis quanto à topografia, aliado ao sistema de plantio direto, mostra que ainda é possível conservar bem os solos de vastas regiões do país. Isso se verifica também em regiões em que a tradição do uso do plantio direto pela maior facilidade de produção de biomassa no sul do país vem se consolidando e atualmente incorporando novas possibilidades, como os sistemas de ILP - Integração Lavoura Pecuária, onde a fase que seria descoberta passa a ter um componente essencial de conservação, que é a pastagem.
Solos cultivados em regiões mais problemáticas, principalmente os arenosos, por outro lado são uma preocupação constante sob o ponto de vista local nas propriedades rurais e, em especial, nas regiões limitadas por microbacias e bacias hidrográficas. É o caso específico do cultivo de solos arenosos por canaviais onde ainda ocorre uma excessiva movimentação da fina pele do planeta. São tecnologias que sempre foram usadas em solos argilosos e que, simplesmente, foram transferidas para outras regiões que exigiriam cuidados diferenciados. A consequência é um desastre de erosões promovendo todo tipo de assoreamentos e perda de produção hídrica nos antigos mananciais.
Fica a grande questão. Diante da incapacidade do setor público ou de sua falta de visão diante da sustentabilidade da produção de alimentos, quem deve assumir o papel de criar novas tecnologias e ensinar seu uso para os agricultores? Vemos que um grande esforço precisa ser feito e, sem dúvida, fundações como a Agrisus podem muito colaborar no direcionamento e apoio a essa discussão.
Os engenheiros agrônomos são os profissionais que precisam liderar movimentos deste tipo em benefício das gerações futuras no país. O futuro da humanidade depende da conservação da fina pele do planeta, todos já ouvimos: conservar os solos é preservar a vida.