Quarta, 27 Novembro 2024

Fernando Valente Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)

A decisão do Copom de reduzir a Selic para 6,75%, menor taxa desde 1999, quando foi implantado o regime de metas da inflação, é positiva, mas mantém os juros brasileiros entre os mais elevados do mundo. Ademais, esta redução pela 11ª vez ainda não chegou com a mesma intensidade às taxas e spreads praticados pelo sistema financeiro junto aos tomadores finais, principalmente no caso das pessoas jurídicas. Além disso, o volume de crédito total da economia terminou dezembro de 2017 com queda real de 0,6%, quando comparado ao mesmo mês de 2016.

Os efeitos da Selic elevada na economia brasileira são muito perversos: só em 2017, o setor público pagou R$ 400,8 bilhões em juros (União, R$ 341 bilhões; estados e municípios, R$ 59,9 bilhões) e as empresas e famílias, R$ 789,9 bilhões, quase o dobro. A taxa média foi de 25,6%, ante uma inflação inferior a 3%. É um absurdo para quem precisou de crédito para investir, constituir capital de giro, adquirir algum bem ou qualquer outra finalidade.

Os juros elevados apenam duplamente a sociedade: de um lado, onerando demasiadamente o “preço” do dinheiro. Este fator reflete-se, por exemplo, na perda de competitividade das empresas perante a concorrência internacional; e, de outro, consumindo recursos orçamentários do setor público, em detrimento de áreas prioritárias. A verdade é que a questão dos juros elevados não vem de hoje e tem sido um problema histórico a limitar a capacidade de crescimento da economia nacional. Temos, agora, uma oportunidade talvez única de fazer reformas (começando pela previdenciária) que diminuam a dependência do Estado bras ileiro na tomada de empréstimos para financiar seus gastos e, com isso, liberar mais recursos para as empresas e famílias, com a potencial consequência de redução de juros e spreads.

Além disso, novas tecnologias estão surgindo, o que poderá suscitar maior concorrência dentro do oligopolizado sistema financeiro nacional, acarretando, como consequência, custos de crédito mais próximos dos níveis internacionais.

São necessárias, ainda, reformas no sistema, com menores níveis de compulsórios, por exemplo, liberando, assim, mais capital para a produção. O fato é que o custo do capital no Brasil, sem soluções malfadadas de heterodoxia, exige uma força tarefa especial de nossas autoridades e economistas para desatar este nó que drena recursos e energia da sociedade e inibe, dentre outros fatores, o aumento do potencial de crescimento de nosso país.

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