Édson Bolfe, coordenador do Sistema Agropensa, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
O setor agrícola é responsável por quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 50% das exportações do Brasil. Essa representatividade significa que de R$ 4 que circulam no Brasil, R$ 1 é agrícola. E de cada dois dólares exportados, um tem origem em chácaras, sítios, fazendas e estâncias de norte a sul do país. O segredo desse sucesso foi a incorporação de inovações tecnológicas na produção, aliada a políticas públicas voltadas para a modernização da agricultura, estabilização macroeconômica e produtores rurais com competência para empreender.
Só nas duas últimas décadas, aumentamos nossa produção de grãos em 250% com apenas 50% de expansão de área. Desse modo, produzimos mais alimentos, fibras, madeira e bioenergia com menos recursos naturais. Isso também tornou o Brasil uma potência ambiental com aproximadamente 60% de sua área preservada, apenas 30% destinadas ao uso rural — agricultura, horticultura, fruticultura, silvicultura, pecuária de corte e leite — e 10% com áreas urbanas, indústrias e infraestrutura. Estudos indicam que as tecnologias que germinaram nas instituições de pesquisa, universidades e empresas são o principal fator desse sucesso. Elas têm sido responsáveis por cerca de 60% do aumento da produção agrícola nas últimas décadas no Brasil.
Por exemplo, na Embrapa foi apurado um Lucro Social de quase R$ 35 bilhões em 2016, decorrente de impactos econômicos de 117 tecnologias e cerca de 200 cultivares lançadas no ano. Considerando apenas a receita em 2016 e o lucro social obtido como empresa pública, para cada R$ 1 investido pela sociedade na pesquisa realizada pela Embrapa, o retorno para o país foi de R$ 11,37.
Ano a ano, presenciamos avanços importantes na geração de cultivares de plantas mais produtivas, nutritivas ou resistentes a pragas e problemas climáticos; raças de animais bastante prolíficas ou adaptáveis aos mais diversos ambientes; novas máquinas, equipamentos e sistemas de produção mais sustentáveis como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF); programas e aplicativos de informática; novos processos de cultivo, de produção animal e controle de pragas e doenças; zoneamento de risco climático; sistemas de informação geográfica para mapear regiões e monitorar o uso da terra. Porém, a agricultura passa por profundas transformações, e a pesquisa precisa ser continuamente fortalecida de modo a gerar inovações para a solução dos crescentes desafios.
Essas inovações estimulam uma maior diversidade produtiva do meio rural. O Brasil já possui mais de 300 produtos de origem da agricultura empresarial e familiar. Essa diversidade agrícola, pecuária, florestal e aquícola contribuiu com a redução do custo da cesta básica em 40%, em termos reais, nas últimas quatro décadas. Ou seja, é mais feijão, arroz, trigo, milho, hortaliças, frutas, sucos, carnes, ovos e leite de qualidade na mesa do brasileiro.
Além do avanço científico e tecnológico, a pesquisa agropecuária se orgulha de contribuir com o desenvolvimento econômico, ambiental e social das populações do campo e das cidades do Brasil.