João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical
Elogio em boca própria é vitupério, mas não posso me calar quando constato acontecimentos que confirmam o que ando escrevendo.
O pluripresidencialismo tem se afirmado cada vez mais como a descrição precisa da balbúrdia em que vivemos. Passa a ser recorrente a contestação de qualquer atitude presidencial e o “modo espera” em que elas são colocadas transforma-se em modo normal.
Além de outros presidentes da hora e ex-presidentes, agora soma-se à lista qualquer juiz de qualquer instância que se arroga o direito de impedir atos presidenciais, ainda que estes sejam indefensáveis e em si mesmos portadores de balbúrdia. O Ministério do Trabalho, que já foi o ministério da Revolução de 30, não merecia isso.
Esse estado de coisas só pode ser obra do diabinho da mão furada, o mau conselheiro que sopra nos ouvidos presidenciais ideias e sugestões estapafúrdias, submetendo todos a um espetáculo de despreparo, improvisação e insegurança.
Mas é preciso que se registre que os erros e vacilações têm sempre uma única direção, a pior, e como a loucura de Hamlet, têm método.
Configuram sempre o agravamento do quadro em que os interesses da elite econômica são preservados ou reforçados e os interesses do povo trabalhador são espezinhados.
A triste figura presidencial, como uma marionete da regressão social ou um joão-bobo do equilíbrio das forças que o apoiam, balança, mas não cai, impondo a todos nós a travessia da malfadada ponte para o futuro que vai não se sabe de onde para lugar nenhum.
Mesmo as promessas menores do presidente, como o pagamento às centrais sindicais dos “resíduos” do imposto sindical, são contestadas e desmentidas por quem se julga no direito de fazer isso. O presidente governa com as calças na mão e só se engana quem quer ser enganado ou se aproveita disso.
As tarefas de reconstrução da unidade do movimento sindical dos trabalhadores e de resistência às agressões da lei celerada e à "deforma" previdenciária somente serão bem cumpridas se abandonarmos de vez as ilusões e nos concentrarmos no que deve ser feito e é a nossa obrigação, sem parecermos, nós mesmos, o joão-bobo da história.