Quarta, 27 Novembro 2024

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Quando escreveu Admirável Mundo Novo (1931), o escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) imaginou um cenário que à época pareceria pouco factível, mas que hoje já se mostra superado se comparado ao estágio que o mundo desenvolvido alcançou. Quem esteve na Suíça nos últimos anos sabe que lá os supermercados já não têm funcionários nos caixas e são os próprios consumidores que passam os produtos nos equipamentos de leitura e fazem o pagamento com cartões.

São profissões que começam a desaparecer, a exemplo do que se deu em outros tempos com os carroceiros, os carvoeiros, os acendedores de lampiões e outros profissionais. Nesse caminho também seguem as redes bancárias que não só fecham agências como dispensam funcionários, já que hoje cerca de 60% das transações são feitas de maneira virtual, sem a necessidade da presença física de um bancário.

Em outros setores de serviços, esse caminho também parece inexorável. Na área de logística, por exemplo, são muitas as mudanças, principalmente na parte tecnológica, em que ocorreu grande redução no tempo de operação dos navios atracados. No porto de Roterdã, na Holanda, um dos mais movimentados do mundo e 12º no ranking do Lloyd List Maritime Intelligence, de Londres, um contêiner com commodities ou produtos industrializados demora, em média, menos de dois dias para ser liberado.

Já no porto de Santos, importações parametrizadas pela Alfândega para os canais amarelo e vermelho costumam demorar ao redor de 20 dias. Para verificar e liberar a madeira das embalagens, o Ministério da Agricultura demora alguns dias. Mas, muitas vezes, chega ao absurdo de obrigar o importador a enviar (reexportar) a embalagem para a origem quando verificado algum indício ou vestígio de "besouro chinês", o que causa demora e custos altíssimos. Na verdade, essas embalagens efetivamente condenadas poderiam ser incineradas no País com menor risco sanitário, já que os processos para a sua reexportação não apresentam maiores cuidados.

Como se sabe, tudo isso aumenta os custos de transporte e armazenagem, além de provocar atrasos na linha de produção das indústrias que dependem de insumos importados. Todos esses custos acabam repassados para o preço final do produto, que chega mais caro às mãos do consumidor local ou do exterior.

Estudo do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) mostrou que as deficiências do País, como alta carga tributária, excesso de burocracia, corrupção, juros elevados, alto custo da energia, excesso de regulação, legislação confusa, falta de investimentos em infraestrutura e defasagem tecnológica, tornam os manufaturados nacionais 34,2% mais caros que os similares importados. Do lado inverso, os produtos nacionais perdem espaço no mercado externo por falta de preço competitivo.

No Brasil, parece que ainda estamos distantes do mundo admirável que Huxley imaginou, mas, aos trancos e barrancos, esse cenário se avizinha com espantosa velocidade. Se no campo caminhões e tratores começam a ser operados sem motoristas, alguns portos já funcionam com guindastes, pórticos e carregadores de navios operados por controle-remoto. É o mundo novo e admirável que vem por aí.

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