Sexta, 29 Março 2024

Sílvio dos Santos é engenheiro do Laboratório de Transportes e Logística Labtrans da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Historicamente as cidades sempre tiveram em seus rios um aliado importante para seu abastecimento tanto de produtos agrícolas, de pescados e de água, além de seu meio de transporte e fator de desenvolvimento econômico e social. Mesmo após 1825, ano da construção da primeira estrada de ferro na Inglaterra, a navegação fluvial era importante e nas áreas ribeirinhas estavam localizadas as principais atividades comerciais, portuárias, administrativas, esportivas, de lazer e turismo. Enfim, o rio era o estruturador urbano de todas essas atividades e suas margens eram atrativas e valorizadas.

Na Europa muitas das grandes cidades foram fundadas nas margens dos principais rios e há séculos convivem harmoniosamente, depois de um período crítico pós-revolução industrial época que aconteceram as primeiras manchas de despejos nas águas, tanto industrial como por esgotos dos centros urbanos. Como sinal de alerta do perigo dessas praticas poluidoras ações foram realizadas nos rios Reno, Sena e principalmente no Tamisa.

Paris tem seus principais monumentos e construções localizados nas margens do Rio Sena, como a Torre Eiffel na rive gauche (margem esquerda), o museu do Louvre na rive droite (margem direita) e mesmo a Catedral de NotreDame, na ilha fluvial Île de laCité, interligada as duas margens por magnificas pontes. Londres com o Big Ben, o Parlamento e a Abadia de Westminster debruçados nas margens do Rio Tamisa, onde também se destacam a Ponte de Londres como um marco histórico e a London Eye, roda gigante colossal que marca a modernidade. Ao longo do Rio Reno, Basileia na Suíça, Estrasburgo na França, Frankfurt, Colônia e Bonn entre outras na Alemanha, têm no Reno o eixo de transporte e desenvolvimento. São incontáveis outras cidades como Hamburgo, Rotterdam, Budapeste, Nova Iorque, Buenos Aires, que são emolduradas pelos seus rios e os têm como aliados.

Entretanto, essa simbiose que ocorre entre as cidades e seus rios, não acontece em nosso país, como em Recife com o Rio Capibaribe, em Porto Alegre com o Rio Guaíba e principalmente em São Paulo com seus rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. A escolha do sitio foi estratégica nos contrafortes do Pátio do Colégio, e a bacia fluvial permitiu as entradas e bandeiras ultrapassarem os limites do Tratado de Tordesilhas com a utilização da correnteza dos rios em direção ao sertão (interior). Esses rios foram o embrião da pequena Vila de São Paulo e ao longo dos anos estruturaram a Grande Metrópole Brasileira.

Muitas marcas do passado ainda mostram a forte relação da São Paulo Antiga com seus rios, como a Ponte das Bandeiras com suas altas torres, que se destacavam nas verdes várzeas, estas serpenteadas pelos antigos meandros, o Velho Mercado Público junto a Ladeira Porto Geral, antigo porto do rio Tamanduateí, a Estrada das Boiadas no Rio Pinheiros caminho do gado que vinha do sul, e notadamente os clubes esportivos como o Espéria, Tietê, São Bento, Estrela, São Paulo o de regatas e também o de futebol no antigo Canindé, Corinthians e Palmeiras, não o antigo Palestra Itália, mas a associação atlética, entre outros, localizados nas margens do rio onde eram realizadas as provas de natação e remo nas límpidas águas do Rio Tietê. Mesmo o Pinheiros, antigo Germânia, na rua Iguatemi dentro da Chácara Itaim, nas margens do Rio Pinheiros, praticava o remo, pois antes da retificação tinha acesso direto às águas do rio.

Ao longo do século passado a cidade virou de costas para seu berço natal, utilizando-os como esgoto a céu aberto, depósito de lixo e grandes eixos viários congestionados. O odor irrespirável, o ruído ensurdecedor e a paisagem árida sem nenhuma vegetação ciliar compõem um retrato feio, mostrando que estamos errados e necessitamos urgentemente mudar para o caminho certo: começar a resgatar nossos rios!!!

Como é impossível retornar as paisagens bonitas retratadas pelos quadros de Felizberto Ranzini, as quais tiveram a mesma arte e inspiração de Monet, quando este pintava as regatas do Rio Sena em Paris, vamos nos empenhar ao menos para tornar límpidas as águas de nossos rios.

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