Ciro Antonio Rosolem, vice-presidente de Estudos do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu)
Até há algum tempo, quando se pensava na população rural, nos trabalhadores do campo e nos agricultores, vinha a imagem estereotipada do Jeca Tatu. Quando se pensava no técnico que dava suporte e desenvolvia as técnicas agropecuárias, como agrônomos, veterinários e, principalmente, zootecnistas, vinha a imagem de um indivíduo com chapéu e botina, cujo principal instrumento de trabalho era um canivete. Essas pessoas fizeram a revolução verde, que hoje dá segurança alimentar à população mundial.
Mas, os tempos são outros. Embora de 60% a 80% dos agricultores brasileiros possuam educação formal até elementar incompleta, e pouco menos de 5% tenham educação superior, há outra revolução em curso, uma revolução tecnológica.
O agronegócio brasileiro tem sido o principal campo de crescimento de “startups” no Brasil. Segundo a ABStartups (Associação Brasileira de Startups), a quantidade de empresas de tecnologia baseada em informática, as chamadas Agritechs ou Agtechs, quase foi quadruplicada. Devem ser mais ou menos 200. Muitas destas empresas foram incubadas em Universidades, e algumas com aporte financeiro de Instituições de Fomento, como FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), por meio de programas especiais. Está dando certo. Há uma grande safra, não só de grãos, mas de jovens empreendedores, normalmente abaixo dos 40 anos, que estão alargando essa fronteira.
Segundo a ABStartups, o agricultor é hoje conectado, 67% deles usam o Facebook e 96% o WhatsApp. Junto com bons resultados agrícolas e a intensa competitividade do setor, se compõe um cenário muito favorável para o crescimento destas novas empresas. As Agritechs apresentam soluções em diversas modalidades de agricultura de precisão, como monitoramento do desenvolvimento de lavouras, monitoramento de pragas e doenças, aplicação de corretivos e adubos, monitoramento de irrigação, entre muitos outros. Já há tratores não tripulados, é comum o uso de drones, já existe um tipo de ‘uber rural’, e até contratos eletrônicos, em que se usa a mesma tecnologia dos bitcoins em contratos de barter, ou seja, contratos de troca da produção por insumos.
A agricultura tem sido o setor que mais contrata mão de obra, e a grande safra de 2017 é um motor da criação de empregos: foram contratados 12,7 mil tratoristas e 1,6 mil operadores de colhedeiras. Até agora se exigia baixa qualificação para essas contratações, mas o cenário está mudando muito rápido. Por exemplo, pragueiro virou monitor, tratorista está virando operador, pois a operação das modernas máquinas exige qualificação. É necessário, pelo menos, saber manusear um tablet. E aqui temos um problema: teremos gente qualificada para tanto? No Mato Grosso há notícias de programas de qualificação em andamento, e no restante do país?
Jovens, há um oceano de oportunidades, e as ferramentas não são mais a botina e o canivete!