Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
Não se pode condenar a estratégia dos governos do lulopetismo a partir de 2003 de incentivar a cooperação Sul-Sul, que previa a assinatura de uma série de acordos comerciais e de cooperação técnica com grandes países em desenvolvimento, como Rússia e China, e outros menos representativos, como Índia, Arábia Saudita, Senegal, África do Sul, Nigéria, Argélia, Moçambique e Angola. As intenções eram boas, mas também não se pode deixar de constatar que, quase 15 anos depois, a cooperação entre nações pobres, de modo geral, só rendeu resultados igualmente pobres. A única exceção é a China, que, em 2016, continuou como o principal parceiro do Brasil, com compras de US$ 37,4 bilhões.
O esquema Sul-Sul, que deveria ter sido encarado apenas como uma alternativa, foi tomado e anunciado como uma resposta preventiva à hipótese de fracasso nas negociações comerciais com a União Europeia (UE) e os EUA. Obviamente, tudo não passou de fanfarronice, que só resultou em prejuízos para a cadeia de comércio internacional brasileira.
Embora os EUA sejam hoje o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com compras de US$ 23,1 bilhões em 2016, a verdade é que, nos últimos anos, os produtos manufaturados brasileiros perderam muito espaço no mercado norte-americano, o maior do mundo. Se o relacionamento tivesse seguido no ritmo em que vinha até 2003, certamente, os EUA continuariam como o principal parceiro do País.
O pior é que hoje o comércio com a UE está estagnado, à espera do acordo de livre-comércio que o Mercosul e aquele bloco prometem assinar em dezembro, em Buenos Aires, em ato paralelo à reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), depois de quase duas décadas de negociações fracassadas.
É verdade que, no primeiro semestre de 2017, o Brasil registrou com a UE novo superávit comercial, de US$ 6,2 bilhões, e o acumulado no ano, de US$ 42,5 bilhões, foi recorde, mas não se pode deixar de reconhecer que há muitas oportunidades pouco aproveitadas. Ou seja, enquanto as exportações em geral avançaram 18,7% no ano, as vendas para o bloco caíram 0,4%, o que constitui um claro sintoma da falta de competitividade do produto manufaturado brasileiro. De janeiro a julho, o País embarcou US$ 19,6 bilhões para os europeus e comprou do bloco US$ 17,4 bilhões. A relação é superavitária, mas ainda modesta, levando-se em conta que a UE concentra 36,1% das importações do mundo e responde por 15,5% das venda s ao exterior.
Portanto, para ampliar a participação nesse grande mercado, é preciso reduzir custos de produção e de logística, o que significa maiores investimentos na infraestrutura de transporte. Sem esses investimentos, a balança do Brasil continuará muito dependente dos países vizinhos. Basta ver que a América do Sul, que importa apenas 3,7% de todo o comércio mundial, é o destino de quase metade das exportações brasileiras. Por aqui também se pode constatar que a cooperação Sul-Sul não passou de retórica.