Terça, 26 Novembro 2024

Creso de Franco Peixoto é mestre e professor de disciplinas de Transportes do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI)

As atuais políticas de melhoria de segurança no trânsito rodoviário não têm atingido resultados satisfatórios. Sofrem de deficiência de base, de concepção de cenário sob a ótica do motorista. Há de se entender como o motorista brasileiro pensa, com câmaras setoriais de estudo para levantar as influências culturais locais a regionais. Os conselhos municipais poderiam auxiliar no levantamento de grande parte destes dados e debater, auxiliando na proposta de novas estratégias.

A lei seca foi concebida na facilidade da fiscalização. Lei binária, onde se põe o beber ou não beber, em país onde o álcool habita mesas. Quantos motoristas sabem quanto tempo esperar depois de beber? Há método ou equipamento oferecido ou de obrigatório porte para avaliar após ingestão?

Motoristas brasileiros se marcam por direção emocional, onde o prazer da velocidade se soma aos costumes arraigados. Prazer que se estende ao consumo alcoólico e música em alto volume. Reduzem quase a zero a capacidade de interagir com o ambiente externo. Um motorista surdo, alcoolizado e que vê no veículo à frente um oponente ao seu intento de ir mais rápido.

Combate-se o excesso de velocidade sem se entender o que passa na cabeça do motorista, onde a profusão de radares parece resposta única ao problema. Combate-se a baixa qualidade da direção alcoolizada com foco no motorista, onde a mesma quantidade de álcool pode gerar diferentes qualidades de direção, da aceitável à indevida de capacidade de reagir, segundo publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos EUA o foco do controle é o carro: se estiver em movimento irregular, abordar e verificar o que ocorre. Aferem o possível o uso de drogas ou sono. Intoxicated, termo que abrange qualquer produto químico a alterar reflexos e comportamento ao volante.

Tome-se, como exemplo, a Rio-Santos. Tem dezenas de radares, concentrados em Angra dos Reis. Em pesquisa que efetivei em 2015, ao aparecer placa de 40 ou 50 km/hlimites, reduzia lentamente a velocidade. Veículos que me acompanhavam, aproximavam de meu pára-choque, em clara demonstração de querer me empurrar, afinal, o radar está mais à frente, não preciso reduzir muito antes. Sou reprovado por quase todos os motoristas. Aos que desapareciam faróis na retaguarda veicular, dava seta, ia para o acostamento por alguns instantes, em trecho que tinha suficiente visibilidade para manter a segurança, sem configurar tráfego pelo acostamento. Três motoristas esbravejaram ao me ultrapassar em faixa dupla, indignados pelo fato de que eu tentava cumprir o limite, antes do local do radar. Na viagem como um todo, foram menos que dez automóveis que alcancei, contra dezenas que me ultrapassaram acima da velocidade permitida. Em uma faixa de pedestres, uma moto caída, piloto atordoado e sentado ao solo e motorista do carro ainda aturdido. Aguardavam socorro. Em outra faixa de pedestres, quatro crianças, sem adultos os acompanhando, entraram na via. Freei normalmente e parei. Com minha mão fora do carro, em frenéticos movimentos verticais, buscava incitar motoristas atrás de mim a parar. Segundos após, as crianças já no meio da via, observei uma moto em sentido oposto ameaçando cruzar a faixa, sem se importar, com as crianças, bastaria desviar. Pisco faróis e a moto freia bruscamente, enquanto o motorista ao lado olha surpreso para mim.

O motorista brasileiro não entende porque não pode correr, porque não pode tomar sua cervejinha e voltar para casa guiando. Direção emocional, distinta da racional que marca os trânsitos mais seguros do mundo. Estamos muito longe nos retrovisores da Alemanha e Japão. Educação de qualidade absolutamente distinta, onde a nota da escola vale, o mercado acredita nos diplomas, a economia se embasa em valor agregado e não simplesmente em exportar matérias primas. O acidente fatal, nestes países, não faz parte da normalidade que nos encontramos.

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