Luiz Roberto Gravina Pladevall, presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (Apecs) e membro da diretoria da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-SP)
A evolução tecnológica não tem poupado a população de problemas há muito tempo presentes no nosso cotidiano. A revolução industrial foi prodigiosa em novos métodos de manufatura, mas também contribuiu para aumentar a poluição atmosférica. Infelizmente, ainda convivemos com resquícios desse tempo, que trazem perdas para a saúde das pessoas. Um relato recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que 92% da população global vivem em regiões com níveis de qualidade do ar acima dos limites mínimos estabelecidos pela entidade.
Infelizmente, a poluição atmosférica persiste no país e está nos mesmos patamares de 2010, ano que o Brasil começou a implementar as metas com as quais se comprometeu em 2009, em Copenhague (COP 15). A proposta era cortar as emissões desses gases entre 36,1% a 38,9%. Dados recentes do Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, mostram crescimento de 3,5% na emissão de gases do efeito estufa em 2015 em relação a 2014.
O resultado dessa exposição frequente causa aproximadamente 3 milhões de mortes anuais, sendo 90% desses óbitos registrados em países de baixa e média renda. O documento da OMS afirma ainda que 92% das mortes são provocadas por doenças não comunicáveis como cardiovasculares, derrame, doença obstrutiva pulmonar crônica e câncer do pulmão. O ar poluído afeta principalmente populações mais vulneráveis como crianças e idosos e também aumenta os riscos de infecções respiratórias graves.
Os sistemas de transporte ineficientes, combustível doméstico e queima de resíduos, usinas de energias movidas a carvão e atividades industriais em geral são as principais fontes de poluição apontadas pelo estudo da OMS.
No Brasil, os efeitos da poluição têm como referência pesquisas realizadas com a orientação do professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo estudos realizados na cidade de São Paulo, se tivéssemos uma redução de 10% da poluição na capital paulista, poderíamos ter evitado 114 mil mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares entre os anos 2000 e 2020.
O município, por exemplo, tem instrumentos que podem reverter esse panorama nos próximos anos. A Lei de Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo, por exemplo, que entrou em vigor em julho de 2009, estabeleceu medidas para reduzir em 30% as emissões de poluentes atmosféricos para os quatro anos consecutivos do início da lei. Infelizmente, muito pouco foi adotado até o momento. Uma das regras da nova legislação previa a troca dos veículos do transporte público movidos a diesel por ônibus com fontes energéticas sustentáveis.
Precisamos enfrentar a poluição do ar como um problema grave, principalmente nas regiões metropolitanas do país. As condições atmosféricas são causadoras de graves problemas de saúde. Melhorar a qualidade do ar, é investir em prevenção e redução do gasto com tratamento de milhares de brasileiros.