Terça, 26 Novembro 2024

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

“Os ônibus têm de disputar seu espaço de circulação com os automóveis e, com isso, perdem a sua eficiência. A expansão do sistema viário, medida comumente adotada, mostrou-se inócua porque rapidamente é superada pelo crescimento da frota de veículos”

“A integração entre diferentes meios de transportes públicos é essencial para melhorar as viagens de milhões de pessoas todos os dias na região metropolitana”

“A faixa exclusiva para ônibus contribui para aumentar a velocidade dos veículos. Sua eficácia é comprovada, mas essa solução apresenta alguns inconvenientes [como conversões de carros à direita].”

“Novas alternativas de combustíveis aos transportes coletivos são essenciais e devem ser pesquisadas”

Analisando essas frases de forma isolada, pode-se concluir que foram ditas por algum especialista numa entrevista, inclusive para o Diário do Transporte, ou então em algum seminário ou congresso de mobilidade realizado nesta semana. Mas não! As frases fazem parte de um documentário de 1979, produzido e veiculado pela Emplasa - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.

A Emplasa é do Governo do Estado de São Paulo e tem o objetivo de realizar planejamentos para o desenvolvimento da região metropolitana de maneira integrada.

O curta “Transportes” mostra uma realidade de São Paulo não muito diferente da atual em relação à falta de investimentos e políticas adequadas para a mobilidade urbana. Entretanto, com números bem diferentes: grandes para época, mas bem modestos para hoje.

De acordo com o documentário, o crescimento populacional por ano se dava numa taxa de 5% em média, era como que se uma cidade de 600 mil habitantes surgisse todos os anos na área da região metropolitana.

A região metropolitana tinha 37 municípios e 12 milhões de habitantes na época do documentário. Hoje são 39 municípios e 20,1 milhões de pessoas.

O documentário foi feito quatro anos depois do início das operações do Metrô em São Paulo e alguns meses após a criação da EMTU - Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, oficializada em agosto de 1978. Naquela época, a EMTU já projetava integração tarifária por meio de bilhetagem moderna entre os diferentes meios de transportes: o metrô, ferrovia de subúrbio, trólebus e os ônibus comuns.

A busca por formas de tração menos poluentes e que fazem com que a economia dependa menos do petróleo também é destaque neste documentário, que mostra a linha da Urubupungá que era feita por ônibus Monobloco Mercedes-Benz O-364 movido a álcool aditivado.

Segundo o documentário, foi possível desenvolver a tecnologia a partir de modificações na bomba injetora de combustível do O-364 que era a diesel.

Ao longo da história, o veículo não se mostrou viável, mas foi um passo importante na pesquisa de tecnologias mais limpas e menos dependentes de petróleo.

O vídeo também mostra a nova geração de trólebus que tinha entrado em circulação na cidade de São Paulo. Os veículos, projetados e fabricados no Brasil como o documentário faz questão de enfatizar, foram frutos do projeto Sistran.

O Sistran ficou a cargo do engenheiro Adriano Murgel Branco, responsável pela recém-criada Diretoria de Sistemas de Trólebus. O intuito era implantar na cidade uma rede de transportes limpos e eficientes. O Plano Sistran previa para São Paulo 1.280 trólebus e a criação de mais 280 km de rede, que se juntariam aos 115 km já existentes na época.

Após o governo de Olavo Setúbal, frente à Prefeitura de São Paulo, ocorreu a tão temida descontinuidade administrativa e o plano nunca foi integralmente implantado.

Apesar de bem menores que os atuais, os números em relação aos deslocamentos de 1979, como revelava o documentário na época, já chamavam a atenção.

Eram realizadas na região metropolitana, 16 milhões de viagens por dia. Hoje são mais de 40 milhões. Do total da época, 8,5 milhões de viagens diárias eram por ônibus. Hoje são cerca de 15 milhões.

Por dia, o Metrô fazia em 1979, 700 mil viagens. Hoje, são em torno de 5 milhões.

Os trens faziam em 1979, cerca de 700 mil viagens por dia. Hoje, este número está em torno de 3 milhões.

As viagens de carro que eram em torno de 5,6 milhões por dia hoje ultrapassam os 14 milhões.

A frota de carros particulares na cidade de São Paulo, de acordo com o documentário, era em 1979 de 1,5 milhão de veículos. Atualmente, somente a capital paulista possui 5,48 milhões.

Os números de 1979 indicavam uma tendência de que os problemas em relação à mobilidade só cresceriam com tempo, mas já eram apontadas soluções.

Entretanto, os avanços foram bem menores do que o necessário, como é possível ver pelos números. As frases tão atuais do filme de 1979 mostram que pode-se atribuir a diversos fatores a imobilidade vivia ainda pelas pessoas, menos à falta de conhecimento sobre as soluções.

Sobre a integração tarifária entre os diferentes modais, o documentário de 1979 já apontava para esta necessidade, mas o Bilhete Único entre os ônibus paulistanos começou somente com implantação completa em 18 de maio de 2004. Em 2006, o Bilhete Único passou a ser usado nos trens do Metrô e da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

E até hoje, 38 anos depois do documentário, não há uma integração tarifária metropolitana.

Por exemplo, quem está em cidades como Santo André, Osasco, Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos, Franco da Rocha, etc., precisa ter o cartão dos ônibus municipais e pagar uma tarifa local; ter o cartão BOM para os ônibus intermunicipais e pagar uma tarifa metropolitana e o Bilhete Único de São Paulo, caso necessite utilizar os ônibus municipais da capital.

Pelo que é possível perceber, houve até avanços, mas insuficientes e numa velocidade bem menor em relação ao crescimento dos problemas.

 

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