Fernando Pinho é economista, palestrante e consultor financeiro da Prospering Consultoria
Diante da mais forte turbulência econômica e política já ocorrida no Brasil, tenta-se aprovar uma das mais importantes reformas, a trabalhista. O uso da carcomida Legislação Trabalhista, datada dos anos 40, arrasta-se até a atualidade, como um fantasma que assombra a nação brasileira, produzindo o que há de pior em termos de custos financeiros e intermináveis litígios entre patrões e empregados, numa luta onde não há ganhadores, só perdedores. E o maior é o nosso País.
Os tempos mudaram, mas existe um ranço ideológico que ainda sustenta a falácia de que o Estado deve interferir em tudo, mesmo sendo incompetente e corrupto. Nesse aspecto, não seria por demais lembrar que, o recém-lançado Relatório Global de Competitividade Mundial situa o Brasil na posição 62 no Ranking de Corrupção, o penúltimo lugar, só perdendo para a Venezuela. Portanto, somos classificados como o segundo país mais corrupto do mundo.
O objetivo desse dogma é manter ultrapassadas estruturas de poder, que só sobrevivem à custa de convencer a parcela ignara da população, que ser dependente das ‘benesses’ do Estado, é algo salutar. Infelizmente, no Brasil, essas crenças só são abandonadas quando a verdade avassaladora se impõe, por meio de crises terríveis, que poderiam ter sido evitadas, se houvesse o uso da inteligência e da honestidade de propósitos.
Parece incrível, em pleno século 21, estarmos ainda discutindo se precisamos ou não mudar as regras do sistema trabalhista, enquanto somos diariamente atingidos pelo surgimento de tecnologias disruptivas (aquelas que produzem rupturas nos processos tecnológicos), que estão destruindo empregos em velocidade espantosa. Finge-se que o mundo é estático, como a fábula da avestruz.
Em Novembro de 2016, foi publicado um estudo pela Universidade das Nações Unidas e Instituto Smithsonian, denominado Projeto Millennium, que teve o propósito de fazer a conexão de instituições e indivíduos para analisar perspectivas e definir estratégias capazes de fazer frente aos desafios globais de longo prazo, influenciando transformações sociais, políticas, econômicas ou científicas. Pesquisadores, professores e pensadores, de 60 países, projetaram para até 2050, o que deverá ocorrer no mundo do emprego e da tecnologia, onde não haverá trabalho para todos.
Projetaram 3 cenários:
Cenário 1 – Tudo fica como está. A tendência é de mais desemprego onde não houver planejamento e estratégias públicas de longo prazo, sobretudo em relação à adoção de novas tecnologias. Existe a premissa de que o incremento da biologia sintética estimule o crescimento econômico, mas também seja fonte de desastres biológicos e insumo para o terrorismo. As economias colaborativa e compartilhada serão fontes de riqueza. As novas tecnologias ajudam a aumentar a produtividade humana, sem contudo, substituir a totalidade dos empregos. Projetam para 2050 que 66% da população estará empregada ou empreendendo, e o restante se dividirá entre o desemprego e a informalidade.
Cenário 2 – Ocorrência de turbulência política e econômica. Os líderes políticos estiveram tão envolvidos em conflitos de curto prazo que não puderam prever a rapidez do avanço da convergência tecnológica, que permite fabricar e imprimir o que se consome (tecnologias 3D e 4D) tornando os negócios e os sistemas tributários obsoletos. A concentração de riqueza continua, o retorno sobre o investimento em capital e tecnologia permanece maior do que o do trabalho. O enfraquecimento das economias não suporta o envelhecimento das sociedades e o desemprego em massa da juventude, conduzindo o mundo a uma realidade de caos e convulsão social. O impacto dos robôs que trabalham 365 dias por ano, sem salário, nem benefício ou aposentadoria, é mais alto do que o previsto; o resultado é que em 2050 quase 4 bilhões de pessoas estarão desempregadas ou na economia informal, com pouca esperança de um futuro melhor.
Cenário 3 – O auto-emprego. Embora sem certeza se as novas tecnologias iriam substituir mais empregos do que criar, muitos líderes antecipam-se a estudar estratégias financeiras visando garantir renda básica universal com o intuito de eliminar a carência material extrema, reduzir a desigualdade e ajudar na transição para novos padrões de economia. Sem precisar trabalhar para ganhar a vida, as pessoas estão livres para explorar seus interesses, dedicando-se a causas para construir u futuro melhor. Com o aumento do desemprego por causa da automação muitos voltam para áreas rurais, ainda que conectados à rede mundial. A descentralização manifesta-se de várias maneiras. Na Economia da auto-realização, grande parte do crescimento criativo está na ‘não-propriedade', com pouca ou nenhuma restrição ao uso compartilhado e livre. O poder individual relativiza o do governo e das corporações. Cada vez mais pessoas convertem-se em investidores. Da força de trabalho, metade trabalha por conta própria, o restante divide-se em proporções iguais, entre a informalidade, o emprego formal e a transição para o empreendedorismo.
Em adição, o site americano “Will Robots Take My Job ?" (Robôs vão tirar o meu emprego?) publicou um artigo em 2013, de autoria de Carl Frey e Michael Osborne, no qual analisaram mais de 700 profissões e calcularam a possibilidade de que, com o avanço da tecnologia, elas sejam automatizadas nos próximos anos. Utilizando apenas alguns exemplos, concluíram que os taxistas e motoristas particulares têm 89% de chance de serem substituídos; os caixas de supermercado, 97%; operadores de telemarketing, relojoeiros e costureiras manuais, 99%. Na outra extremidade, a profissão de terapeuta recreativo, que executa atividades com pacientes de hospitais e casas de repouso, tem apenas 0,28% de probabilidade de ser automatizada.
Portanto, é de vital importância que atente-se para esse fenômeno implacável da substituição de pessoas por máquinas, já que o mesmo atingirá cada vez mais fortemente os países subdesenvolvidos como o Brasil, usualmente pouco vigilantes às transformações do mundo moderno.