Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
Em 2016, nenhum país ou mesmo bloco importou tantos produtos industrializados do Brasil quanto os EUA, como mostram dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC): foram US$ 14,2 bilhões, o que equivale a uma alta de 2,9% em comparação com 2015. A importação de produtos de maior valor agregado teve uma participação de 61,3% de um total de US$ 23,1 bilhões exportados pelas empresas brasileiras para o mercado norte-americano.
De tudo o que foi negociado em 2016 com os EUA, os embarques de aeronaves corresponderam a 13%. Para se ter uma ideia da importância dos EUA para a indústria brasileira, basta dizer que a União Europeia (UE) importou US$ 12,6 bilhões em produtos manufaturados brasileiros, ou seja, US$ 1,6 bilhão a menos que o volume importado pelos norte-americanos. Hoje, o Brasil é o 12º país no ranking de exportações americanas e 17º em importações.
Mais: os EUA são o segundo maior exportador do mundo e o primeiro importador. Das 50 principais multinacionais do planeta, 30 têm matriz nos EUA. Daquelas 50, as 11 principais são dos EUA. Por isso, não se pode levar em conta quando o presidente Donald Trump anuncia a intenção de adotar medidas de restrição a produtos de outros países porque os EUA não podem ser protecionistas pela simples razão de que iriam perder muito dinheiro.
Aparentemente, o que o presidente Trump quer são negociações mais equilibradas para reduzir o déficit comercial dos EUA com algumas nações. Mas esse não é o caso do Brasil. Em 2016, o Brasil registrou US$ 23,8 bilhões em importações dos EUA, gerando um déficit de US$ 646 milhões. No ano anterior, o déficit foi ainda maior, de US$ 2,4 bilhões.
Desses números, o Estado de São Paulo é responsável por 33% das exportações brasileiras e por 45% das importações, tendo acumulado em 2016 um déficit de US$ 2,4 bilhões e, em 2015, de US$ 3,5 bilhões. Ou seja, o Brasil segue na contramão do mundo, acumulando, desde 2007, déficits na relação comercial com os EUA, como se fosse um país desenvolvido em sua relação com um parceiro em desenvolvimento.
Em 2017, ao que tudo indica, a Argentina deverá voltar a ocupar a liderança no ranking dos países que mais importam produtos manufaturados brasileiros, superando os EUA, país que em 2014 desbancou exatamente os argentinos dessa posição. Pela primeira vez em três anos, no primeiro quadrimestre, a Argentina foi o país que mais importou bens industrializados brasileiros com as compras totalizando US$ 4,7 bilhões.
Obviamente, nada se tem contra esse incremento comercial com a Argentina. Pelo contrário. O que urge é que haja por parte do governo federal ações mais efetivas no sentido de melhorar a infraestrutura nacional, reduzindo o custo Brasil, para que o produto manufaturado brasileiro tenha condições de se colocar no mercado norte-americano de maneira mais competitiva.